Os limites do mar
Recuperam meu fôlego
Um poema acontece nas águas
Quando uma palavra me encanta
Ou quando num mergulho imprevisto
Me vejo indo ao encontro
De peixes e acasos
Redemoinhos vem para me proteger
Enquanto o sal sacia meu coração
O chão do mar sou eu mesmo
E eu mesmo posso ser o céu de minha alma
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
domingo, 28 de dezembro de 2008
100!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Muito bem, este é o centésimo poema!
Há 3 meses quando me propus a escrever 1 poema por dia durante 6 meses, achei que estava exagerando, ou que não poderia dar conta, já que um poema não se faz assim de uma hora para outra. No entanto, aí estão 100 poemas, claro que tenho noção de que apenas uma meia duzia carregam alguma qualidade poética, não digo isso por falsa modéstia, nem para arracar elogios, mas por honestidade e seriedade que cabe a alguem que pretende algo em literatura.
Muitos vieram me perguntar se eu já tinha poemas prontos. Na verdade, quando comecei eu tinha 20 poemas prontos e muitos pensamentos e frases soltas em meu caderninho de anotações. Bem, o fato é que esses 20 poemas acabaram, e então tive que prestar mais atenção em minhas antigas anotações e reelaborá-las, e invetar outras num ritmo mais acelerado e frequente. Houve dias em que um certo desespero me invadia porque eu só tinha rascunhos, mas o poema tinha que ser publicado e muitos vezes fui dormir quase de manhã para terminar um poema de 5 ou 6 versos.
Agradeço a todos aqueles que tem acompanhado meu esforço em manter este blog vivo, especialmente a Deisi Delagado, Cesar dias, Jorge Froes e sandra Tenorio.
obrigado!
C(s)em poemas
Hoje estou cansado
Como quem tocou o teto do céu
Ou porque ficou assombrado
com a fugacidade das nuvens
Estou cansado pelo meu corpo
ser o combustível
de minha própria poesia
Meus olhos estão cansados também
Pois a beleza e a tristeza
são coisas que pesam
nos espaços vazios do coração
Mas só um poema me põe
de volta na roda viva
Me revigora
E já passo a ser
Outro
dentro de mim mesmo
Por todos os dias
Por toda a vida
sábado, 27 de dezembro de 2008
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
O tigre e o mundo
“Dentro de mim vive um tigre. E o difícil é manter esse tigre sob controle”
Pedro Juan Gutierres
Pedro Juan Gutierres
Dentro de mim vive um tigre
E as jaulas de minha alma estão abertas
O tigre é lento e sorrateiro
Nos olhos dele se guarda a sabedoria
Do instinto
As jaulas estão abertas
E o mundo está a sua espera
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Atenção:
O mundo parou
Os carros das cidades
Uniram-se num enorme engarrafamento
Pássaros suspenderam seus vôos em pleno ar
As plantas pararam de crescer
E todas as maquinas do mundo silenciaram
A morte deixou de matar
E a vida deixou de viver
Nuvens permanecem altas e claras
As águas dos rios estagnaram pelas margens
Sim, o mundo parou ao meu redor
Mas aqui
Dentro de mim
Há outro mundo funcionando
Pulsando a vida
E as coisas dentro meu mundo
Jamais pararam de acontecer
Os carros das cidades
Uniram-se num enorme engarrafamento
Pássaros suspenderam seus vôos em pleno ar
As plantas pararam de crescer
E todas as maquinas do mundo silenciaram
A morte deixou de matar
E a vida deixou de viver
Nuvens permanecem altas e claras
As águas dos rios estagnaram pelas margens
Sim, o mundo parou ao meu redor
Mas aqui
Dentro de mim
Há outro mundo funcionando
Pulsando a vida
E as coisas dentro meu mundo
Jamais pararam de acontecer
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Cristo
Hoje é natal
No entanto, mais importante
Que acreditar em cristo
É saber se Cristo
Ainda acredita em nós
Saber se a humanidade
Ainda germina nos olhos dos homens
Ou se ainda somos capazes de abraços honestos
Ou de uma palavra doce ao ouvido
Se Cristo acredita em nós
E se ainda não desistiu dos homens atrozes
Os mesmos que reduziram a grandeza humana
Nos gestos mais mesquinhos
Então eu acredito em cristo
Então eu acredito que há algo tão sagrado
Capaz perdoar o egoísmo humano
No entanto, mais importante
Que acreditar em cristo
É saber se Cristo
Ainda acredita em nós
Saber se a humanidade
Ainda germina nos olhos dos homens
Ou se ainda somos capazes de abraços honestos
Ou de uma palavra doce ao ouvido
Se Cristo acredita em nós
E se ainda não desistiu dos homens atrozes
Os mesmos que reduziram a grandeza humana
Nos gestos mais mesquinhos
Então eu acredito em cristo
Então eu acredito que há algo tão sagrado
Capaz perdoar o egoísmo humano
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Todas as partes do dia
para Fernando Pessoa
Eu sou do tamanho dos meus sonhos
Minha alma é da altura do que penso
Porém, meus pensamentos
Não são mais do que dois pássaros
Surgindo no horizonte
Voando na direção dos teus olhos claros
Meus pensamentos voam à noite
Pois as manhãs não são mais importantes
Que a noite
Nem a noite é mais importante que as manhãs
Todas as partes do dia têm sua importância
Todas as partes do dia têm sua verdade
Todas as partes do dia temos que existir
Tenho em cada dia uma infinidade
Do que posso ser
Mas creio que vou sendo na mediada em
Que invento o trajeto de meus pássaros
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Sentimento de mar
Preciso do horizonte encostado no mar
Onde eu possa mergulhar
Até quase me afogar em tua languidez
Preciso perder-me num tempo
Dentro das águas
Encontrar um certo sentimento de mar
Ou um certo sentimento de ar
Qualquer lugar de onde
Eu possa emergir
Até a superfície de tua respiração
Onde eu possa mergulhar
Até quase me afogar em tua languidez
Preciso perder-me num tempo
Dentro das águas
Encontrar um certo sentimento de mar
Ou um certo sentimento de ar
Qualquer lugar de onde
Eu possa emergir
Até a superfície de tua respiração
domingo, 21 de dezembro de 2008
Pedra
Pedra arremessada na lagoa
Durante o vôo
Ela conhece os segredos da movência
Estuda a história dos relâmpagos
E os afagos do vento
Pedra arremessada aprende
Que voar é desprender-se do arremesso
Mas toda pedra cai pelo do peso de viver
Pois não se regressa um voo acontecido
Durante o vôo
Ela conhece os segredos da movência
Estuda a história dos relâmpagos
E os afagos do vento
Pedra arremessada aprende
Que voar é desprender-se do arremesso
Mas toda pedra cai pelo do peso de viver
Pois não se regressa um voo acontecido
sábado, 20 de dezembro de 2008
Desamparo
Estou a olhar para mar
E o desamparo é inevitável
Diante de águas infinitas
A espuma é uma intuição fugaz
No movimento de cada onda
Minha infância se apruma e respira
Há homens que sabem olhar para um oceano
Eu não, só sei sentir
Enquanto isso,
Apenas planejo um mergulho
Simples, sossegado e profundo
Até que minha memória arqueje
Aos pés da criança que fui
O mar nasce é nos olhos da infância
Meu desamparo é uma ilha
Nascendo no mar
E o desamparo é inevitável
Diante de águas infinitas
A espuma é uma intuição fugaz
No movimento de cada onda
Minha infância se apruma e respira
Há homens que sabem olhar para um oceano
Eu não, só sei sentir
Enquanto isso,
Apenas planejo um mergulho
Simples, sossegado e profundo
Até que minha memória arqueje
Aos pés da criança que fui
O mar nasce é nos olhos da infância
Meu desamparo é uma ilha
Nascendo no mar
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Perfumes
Tenho sonhado perfumes
E os aromas são tão nítdos
como os girassóis de Van Gogh
Um perfume tece a madrugada
Me elevo até o nascimento de uma orquídea
Flores milagram aromas
para salvar meus sonhos
Os meus e os das nuvens
que pretendem cheiros doces e finitos
A fugacidade do perfume
Me completa e me conforta
Porque dormem na memória
E os aromas são tão nítdos
como os girassóis de Van Gogh
Um perfume tece a madrugada
Me elevo até o nascimento de uma orquídea
Flores milagram aromas
para salvar meus sonhos
Os meus e os das nuvens
que pretendem cheiros doces e finitos
A fugacidade do perfume
Me completa e me conforta
Porque dormem na memória
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Domadora de raios
Domadora de raios
Sou prisioneiro dos teus pensamentos
Com uma pedra ao acaso
Risca o meu destino
És a domadora dos raios
E das tempestades em mar aberto
Quando te vestes de luz
Minha travessia é um cometa desgarrado
Tombo num mar alto
Sou um naufrago dentro dos teus gestos
Sou prisioneiro dos teus pensamentos
Com uma pedra ao acaso
Risca o meu destino
És a domadora dos raios
E das tempestades em mar aberto
Quando te vestes de luz
Minha travessia é um cometa desgarrado
Tombo num mar alto
Sou um naufrago dentro dos teus gestos
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Mundos
Mundos
Observo a rua pela janela de um bar
Pessoas caminham no seu ritmo
Cada uma carregando um mundo nos olhos
Algumas parecem em paz
Como se conhecessem o mistério da vida e da morte
Outras parecem doer à caminhada chorando pelo avesso
Só então percebo:
Há tantos universos a conhecer
Há tantas pessoas imersas em si mesmas
Mas Deus é tão cruel
Pois muitos anos vão passar
E mesmo assim
Sei que morrerei sem conhecer
Todas essas pessoas e os seus mundos
A vida é um relâmpago
Iluminando mundos e universos
Observo a rua pela janela de um bar
Pessoas caminham no seu ritmo
Cada uma carregando um mundo nos olhos
Algumas parecem em paz
Como se conhecessem o mistério da vida e da morte
Outras parecem doer à caminhada chorando pelo avesso
Só então percebo:
Há tantos universos a conhecer
Há tantas pessoas imersas em si mesmas
Mas Deus é tão cruel
Pois muitos anos vão passar
E mesmo assim
Sei que morrerei sem conhecer
Todas essas pessoas e os seus mundos
A vida é um relâmpago
Iluminando mundos e universos
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Segunda e terça
Começo
Meus olhos têm começo
E eles começam no teu corpo
Um passeio pela tua pele
É um sonho sendo construído
Teus olhos estão ungidos
Pelos relâmpagos e pela claridade
O mar contém suas ondas
Diante de tuas pupilas
E os corações dos peixes palpitam
Sob a ordem de tuas pálpebras
E um novo mundo começa
Cada vez que os teus olhos se movem
Na direção do infinito
Morrer o tempo
É preciso morrer o tempo
Num beijo profundo
Uma onda me leva
Para conhecer a vida até o fundo
E de lá
Volto à tona para o mundo
E a superfície é um manto
Escondendo a história do oceano
Depois retorno ao mar
Para morrer o tempo
Num mergulho difícil e sincero
Meus olhos têm começo
E eles começam no teu corpo
Um passeio pela tua pele
É um sonho sendo construído
Teus olhos estão ungidos
Pelos relâmpagos e pela claridade
O mar contém suas ondas
Diante de tuas pupilas
E os corações dos peixes palpitam
Sob a ordem de tuas pálpebras
E um novo mundo começa
Cada vez que os teus olhos se movem
Na direção do infinito
Morrer o tempo
É preciso morrer o tempo
Num beijo profundo
Uma onda me leva
Para conhecer a vida até o fundo
E de lá
Volto à tona para o mundo
E a superfície é um manto
Escondendo a história do oceano
Depois retorno ao mar
Para morrer o tempo
Num mergulho difícil e sincero
domingo, 14 de dezembro de 2008
Salvo
Salvo
Não escrevo poemas
Para me ajudar
Poemas nunca me ajudaram
Em nada
Um poema nunca me deu um auxílio
A poesia não serve para isso
Um poema não pode ajudar ninguém
Mas um poema pode nos salvar
Todos os dias
Porque há um abismo entre ajudar e salvar
Ser salvo é abandonar-se nas mãos de Deus
Hoje me abandonei novamente nas mãos da poesia
Mas não escrevo apenas para ser salvo
Escrevo também para equilibrar o sol no horizonte
Escrevo para dilatar minhas pupilas
E reconhecer a realidade de um sonho
Não escrevo poemas
Para me ajudar
Poemas nunca me ajudaram
Em nada
Um poema nunca me deu um auxílio
A poesia não serve para isso
Um poema não pode ajudar ninguém
Mas um poema pode nos salvar
Todos os dias
Porque há um abismo entre ajudar e salvar
Ser salvo é abandonar-se nas mãos de Deus
Hoje me abandonei novamente nas mãos da poesia
Mas não escrevo apenas para ser salvo
Escrevo também para equilibrar o sol no horizonte
Escrevo para dilatar minhas pupilas
E reconhecer a realidade de um sonho
sábado, 13 de dezembro de 2008
Uma temporada no deserto
Uma temporada no deserto
O deserto é um pássaro com sede
E o meu corpo é uma fonte secando
Um homem só conhece a solidão
Depois de caminhar pelo deserto
Cada grão de areia
É uma palavra que o mundo deixou de dizer
A movência das dunas
É o discurso do tempo
E uma tempestade no deserto
É o destino mudando de lugar
Mas um destino não nos permite
Andar a esmo
Porque temos um compromisso com ele
A vida escolheu o deserto para
Secar a tristeza
O deserto é o nada que é tudo
Meu deserto é em todo lugar
Nos olhos exuberantes da noite
E também dentro de mim
Um homem só encontra um caminho
Quando aprende a trajetória do sol
Um homem só ama um deserto
Quando pode deixa-lo
Ou viver dentro dele
Alguma coisa
Esta noite alguma coisa
De Mozart e Bethoven
Ficou em mim
Algo grave
Talvez uma nota profunda retirada
De uma noite profunda
Tocada por um Chopin
Embriagado de chope
Alguma coisa de Vivaldi ou Verdi
Ficou espalhada
Nesta noite viva e lancinante
Alguma coisa de whisky
Permanece em minha boca
Ao sabor de Stravinsky
O deserto é um pássaro com sede
E o meu corpo é uma fonte secando
Um homem só conhece a solidão
Depois de caminhar pelo deserto
Cada grão de areia
É uma palavra que o mundo deixou de dizer
A movência das dunas
É o discurso do tempo
E uma tempestade no deserto
É o destino mudando de lugar
Mas um destino não nos permite
Andar a esmo
Porque temos um compromisso com ele
A vida escolheu o deserto para
Secar a tristeza
O deserto é o nada que é tudo
Meu deserto é em todo lugar
Nos olhos exuberantes da noite
E também dentro de mim
Um homem só encontra um caminho
Quando aprende a trajetória do sol
Um homem só ama um deserto
Quando pode deixa-lo
Ou viver dentro dele
Alguma coisa
Esta noite alguma coisa
De Mozart e Bethoven
Ficou em mim
Algo grave
Talvez uma nota profunda retirada
De uma noite profunda
Tocada por um Chopin
Embriagado de chope
Alguma coisa de Vivaldi ou Verdi
Ficou espalhada
Nesta noite viva e lancinante
Alguma coisa de whisky
Permanece em minha boca
Ao sabor de Stravinsky
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Olhares
Olhares
Teus olhos marejam o rumo das águas
Dentro deles planejas a direção das marés
E o destino dos peixes
Gosto do modo como tu descansas
O teu olhar sobre as coisas
Teus olhos explicam o amor
E tua serenidade abraça
Minhas inquietudes
Teus olhos marejam o rumo das águas
Dentro deles planejas a direção das marés
E o destino dos peixes
Gosto do modo como tu descansas
O teu olhar sobre as coisas
Teus olhos explicam o amor
E tua serenidade abraça
Minhas inquietudes
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Fogo brando
para Frederic Chopin
Fogo brando
A vida é um lampejo
Labaredas dançam no escuro
E vão descobrindo a geografia da noite
Brasas cansadas
Ainda sustentam
Um rumor de vida
Na ponta de uma fogueira
Ouve-se um piano ao longe
Pairando melodias sobre um fogo brando
Calado e profundo
Há pelas ruas um fogo triste
Como se Chopin tocasse
Em todas as casas noturnos infinitos
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Neblina em Porto Alegre
Neblina em Porto Alegre
A noite cai sobre porto alegre
Há uma breve neblina
Adormecida nos morros e nos quintais da minha alma
A madrugada começa a viver dentro mim
Tão plena como as paragens celestes
Guardadas no fundo das estrelas
A noite cai sobre porto alegre
Há uma breve neblina
Adormecida nos morros e nos quintais da minha alma
A madrugada começa a viver dentro mim
Tão plena como as paragens celestes
Guardadas no fundo das estrelas
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Sobre ventos e flores
Sobre ventos e flores
O silêncio migra para outro silêncio
Enquanto uma flor vence um furacão
Vence, porque suas raízes já haviam
Aprendido a amar a terra
E toda a raiz sabe a vida até o fundo
Porém, cada silêncio é uma palavra condenada
As flores não conhecem o tempo
Por isso resistem com sua beleza
Aos ventos fortes e mordazes
Sim, querido Drummond, outra flor nasceu na rua
Uma flor difícil
Compreendida apenas pelos pássaros
Ou por uma brisa à beira mar
O silêncio migra para outro silêncio
Enquanto uma flor vence um furacão
Vence, porque suas raízes já haviam
Aprendido a amar a terra
E toda a raiz sabe a vida até o fundo
Porém, cada silêncio é uma palavra condenada
As flores não conhecem o tempo
Por isso resistem com sua beleza
Aos ventos fortes e mordazes
Sim, querido Drummond, outra flor nasceu na rua
Uma flor difícil
Compreendida apenas pelos pássaros
Ou por uma brisa à beira mar
domingo, 7 de dezembro de 2008
Bondade
Bondade
Há dias em que acordo
Com uma estranha ternura
Pelas pessoas
Uma ternura tão ingênua
Que passo a crer em todas elas
Como se todas fossem capazes
De gestos benevolentes e doces
Como se todas fossem capazes
De amar um oceano inteiro
Mesmo sem compreendê-lo
Há dias em que vida é tão vasta
Que todos os medos se perdem pelos bosques
E um caminho feito de terra e céus
São inventados por pessoas bondosas
E há os dias como estes
Em que um céu estrelado
Guarda meu sono
Enquanto a bondade do mundo
Trabalha meu destino
Há dias em que acordo
Com uma estranha ternura
Pelas pessoas
Uma ternura tão ingênua
Que passo a crer em todas elas
Como se todas fossem capazes
De gestos benevolentes e doces
Como se todas fossem capazes
De amar um oceano inteiro
Mesmo sem compreendê-lo
Há dias em que vida é tão vasta
Que todos os medos se perdem pelos bosques
E um caminho feito de terra e céus
São inventados por pessoas bondosas
E há os dias como estes
Em que um céu estrelado
Guarda meu sono
Enquanto a bondade do mundo
Trabalha meu destino
sábado, 6 de dezembro de 2008
Sexta e sábado
Forasteiro
Estou vindo de um lugar que não há mais
Um lugar onde as mulheres
Eram vestidas de sol
E os homens fechavam os olhos
Para senti-las passar
De onde eu venho não há solidão
E o tempo é algo tão longínquo
Quanto qualquer instante
Desenhado no horizonte
De onde eu venho
Cada lágrima tecida
Comove todos os homens e todas as mulheres
E os velhos por um momento
Deixam suas memórias
Para reconhecer um pouco mais de tristeza
Alma
O poema é a morada
Das minhas angustias
A história da minha poesia
Está submersa nas almas
De todos os homens
E de todas as mulheres
Meus poemas são memórias
E a memória está sempre ameaçada pelo tempo
No entanto, a memória se defende
Inventando passados
Imaginando vestígios
Driblando verdades
Mas a verdade só é
O caminho que vou imaginando
Estou vindo de um lugar que não há mais
Um lugar onde as mulheres
Eram vestidas de sol
E os homens fechavam os olhos
Para senti-las passar
De onde eu venho não há solidão
E o tempo é algo tão longínquo
Quanto qualquer instante
Desenhado no horizonte
De onde eu venho
Cada lágrima tecida
Comove todos os homens e todas as mulheres
E os velhos por um momento
Deixam suas memórias
Para reconhecer um pouco mais de tristeza
Alma
O poema é a morada
Das minhas angustias
A história da minha poesia
Está submersa nas almas
De todos os homens
E de todas as mulheres
Meus poemas são memórias
E a memória está sempre ameaçada pelo tempo
No entanto, a memória se defende
Inventando passados
Imaginando vestígios
Driblando verdades
Mas a verdade só é
O caminho que vou imaginando
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Ernesto Sabato
Ernesto Sabato
Terminei de ler o livro “a resistência” de Ernesto Sabato e saí com a sensação que a melhor forma de viver é resistir. Mais do que um velhinho dando lições de moral, Sabato com seus 90 anos se mostra lúcido e vigoroso ao resistir com palavras à tempos sombrios como o que vivemos. Sabato resgata valores, a experiência, a sabedoria e o amor pela vida. Desde o seu livro “Sobre heróis e tumbas” que Sabato não me comovia. Peço que prestem atenção neste trecho de “A resistência”:
“Esqueci grandes trechos da vida e, em compensação, ainda palpitam em minhas mãos os encontros, os momentos de perigo e o nome daqueles que me resgataram das depressões e amarguras. Também o de vocês que acreditam em mim, que leram meus livros e me ajudarão a morrer”
Aproveito este trecho para agradecer as poucas pessoas que têm lido e acompanhado meus poemas, parafraseando Sabato:
“Ainda palpitam nos meus olhos os encontros, os momentos difíceis, o nome daqueles que abriram a porta do quarto, acenderam a luz e me resgataram das amarguras. E também o de vocês que acreditam em mim, que leram meus poemas e me ajudarão a viver”
Obrigado!
Terminei de ler o livro “a resistência” de Ernesto Sabato e saí com a sensação que a melhor forma de viver é resistir. Mais do que um velhinho dando lições de moral, Sabato com seus 90 anos se mostra lúcido e vigoroso ao resistir com palavras à tempos sombrios como o que vivemos. Sabato resgata valores, a experiência, a sabedoria e o amor pela vida. Desde o seu livro “Sobre heróis e tumbas” que Sabato não me comovia. Peço que prestem atenção neste trecho de “A resistência”:
“Esqueci grandes trechos da vida e, em compensação, ainda palpitam em minhas mãos os encontros, os momentos de perigo e o nome daqueles que me resgataram das depressões e amarguras. Também o de vocês que acreditam em mim, que leram meus livros e me ajudarão a morrer”
Aproveito este trecho para agradecer as poucas pessoas que têm lido e acompanhado meus poemas, parafraseando Sabato:
“Ainda palpitam nos meus olhos os encontros, os momentos difíceis, o nome daqueles que abriram a porta do quarto, acenderam a luz e me resgataram das amarguras. E também o de vocês que acreditam em mim, que leram meus poemas e me ajudarão a viver”
Obrigado!
Solidões
Cada pessoa carrega
Uma solidão diferente
Existe a solidão necessária
Aquela que nos faz
Uma Espécie de ilha
E assim tateamos nossos limites
Até sabermos
Onde a terra finda e o mar rebenta
Mas há a solidão de doer
Aquela que dói nos ossos
E desta que estou a falar
Do peso da ausência
Que as pessoas carregam nos ombros
E nos olhos
Quando caminham caladas e remotas
Curo minhas ausências
Prestando atenção
Na solidão dos outros
E na minha também
Só Deus tem direito a solidão
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Procura
Procura
O que procuramos
Não está no tempo
Nem nos aços dos espelhos
O que procuramos está sendo construído
Está sendo imaginado por uma
Força bruta e delicada
Às margens de um rio
Mas o tempo não é nosso
É das palavras e das coisas
A metáfora me conhece antes de mim
O que procuramos
Não está no tempo
Nem nos aços dos espelhos
O que procuramos está sendo construído
Está sendo imaginado por uma
Força bruta e delicada
Às margens de um rio
Mas o tempo não é nosso
É das palavras e das coisas
A metáfora me conhece antes de mim
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Chuva fria
Chuva fria
Hoje uma chuva fria
Me fez prestar mais atenção
Nos gestos dos outros
E também no modo como as pessoas
Se protegem dos pingos
Dos ventos
Elas encolhem os ombros
Fecham os olhos
Como se buscassem abrigo
Dentro de si mesmas
Hoje uma chuva fria
Me fez prestar mais atenção
Nos gestos dos outros
E também no modo como as pessoas
Se protegem dos pingos
Dos ventos
Elas encolhem os ombros
Fecham os olhos
Como se buscassem abrigo
Dentro de si mesmas
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Sustento
Sustento
Evocar a poesia é um pacto com a solidão
A presença difícil de um poema
Me conforta
Ou me torna impossível
Mas um poema é tão vasto
Que pode caber
Dentro de um coração partido
Porém, mantenhamos calma
O universo está por um fio
Mas o céu pode ainda sustentá-lo
Evocar a poesia é um pacto com a solidão
A presença difícil de um poema
Me conforta
Ou me torna impossível
Mas um poema é tão vasto
Que pode caber
Dentro de um coração partido
Porém, mantenhamos calma
O universo está por um fio
Mas o céu pode ainda sustentá-lo
domingo, 30 de novembro de 2008
Velha arvore madura
Então tá, né? Aí vão mais dois poemas para compensar os dois dias sem poemas.
Velha arvore madura
Tenho um sonho herdado
Das árvores
São elas que me fazem
Entrar em contato
Com a permanência
Porque a raiz é a filha
Do séculos
A terra sabe disso
Por isso nasce as árvores
Cada folha que cai
Envelhece as arvores
Cada vento que passa
Torna as arvores mais maduras
E arvores maduras
Entendem os frutos da terra
Assim como Gide as entende
Noturno
Meus olhos mergulham noite adentro
Depois emergem do profundo
Como pássaros na sombra
Ouço cantos
Eles anunciam a lucidez do dia
E enquanto adormeço serenamente
A claridade vai imaginando o amanhecer
Velha arvore madura
Tenho um sonho herdado
Das árvores
São elas que me fazem
Entrar em contato
Com a permanência
Porque a raiz é a filha
Do séculos
A terra sabe disso
Por isso nasce as árvores
Cada folha que cai
Envelhece as arvores
Cada vento que passa
Torna as arvores mais maduras
E arvores maduras
Entendem os frutos da terra
Assim como Gide as entende
Noturno
Meus olhos mergulham noite adentro
Depois emergem do profundo
Como pássaros na sombra
Ouço cantos
Eles anunciam a lucidez do dia
E enquanto adormeço serenamente
A claridade vai imaginando o amanhecer
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Luta
Luta
Meu coração luta como uma prece
Um abandono ao longe
É ainda o que perdura
Um aceno me faz existir
A ausência me faz companhia
Meu coração luta como um raio
Penetra a terra
E terra é a dos que sabem caminhar nela
Meu coração luta como uma prece
Um abandono ao longe
É ainda o que perdura
Um aceno me faz existir
A ausência me faz companhia
Meu coração luta como um raio
Penetra a terra
E terra é a dos que sabem caminhar nela
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Iberêpoema
Iberêpoema
Há um silêncio triste
Nas cores que tangem
Teus gestos duros e sinceros
Nos quadros, olhos imensos
Acolhem a angustia das tintas imprecisas
Teu tempo é cinza
Que fazem chorar
Dias pesados
Tua angústia caminha nas minhas retinas
Como uma eternidade repousada
Tua pintura me transborda
Mas me educa
Sinto cada traço
Sinto cada esforço
Iberê
O infinito te reconhece
Há um silêncio triste
Nas cores que tangem
Teus gestos duros e sinceros
Nos quadros, olhos imensos
Acolhem a angustia das tintas imprecisas
Teu tempo é cinza
Que fazem chorar
Dias pesados
Tua angústia caminha nas minhas retinas
Como uma eternidade repousada
Tua pintura me transborda
Mas me educa
Sinto cada traço
Sinto cada esforço
Iberê
O infinito te reconhece
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
A angústia de um poema
A angústia de um poema
O poema é a morada
De minhas angústias
As histórias de meus poemas
Estão submersas
Nas almas dos homens e das mulheres
Minha palavra descreve a trajetória do abismo
Ou a altura do céu
A alma reflete o tempo
Só as almas têm história
Carregam consigo um livro sagrado
Aonde as histórias vão nascendo
Mas o corpo é tão breve
O poema é a morada
De minhas angústias
As histórias de meus poemas
Estão submersas
Nas almas dos homens e das mulheres
Minha palavra descreve a trajetória do abismo
Ou a altura do céu
A alma reflete o tempo
Só as almas têm história
Carregam consigo um livro sagrado
Aonde as histórias vão nascendo
Mas o corpo é tão breve
terça-feira, 25 de novembro de 2008
+ 2 POemaS
Fé
Quero ter a fé das crianças
Acreditar em Deus
Como as crianças acreditam
Mas acreditar com uma certa angústia
A angústia dos que amam
E a dos que sabem partir
Como Deus que sempre soube
Se deixar pelo caminho
Assim como as pegadas
Que o vento deixa na terra
Despertar
Nuvens mal despertas
Se apóiam no horizonte
Dos meus olhos
Um Breve raio de sol
Sustenta meu caminho
Neste instante
Uma clarividência me dói nos ossos
As nuvens preguiçosas
Dormem o céu
E pássaros voam sóis
Quero ter a fé das crianças
Acreditar em Deus
Como as crianças acreditam
Mas acreditar com uma certa angústia
A angústia dos que amam
E a dos que sabem partir
Como Deus que sempre soube
Se deixar pelo caminho
Assim como as pegadas
Que o vento deixa na terra
Despertar
Nuvens mal despertas
Se apóiam no horizonte
Dos meus olhos
Um Breve raio de sol
Sustenta meu caminho
Neste instante
Uma clarividência me dói nos ossos
As nuvens preguiçosas
Dormem o céu
E pássaros voam sóis
domingo, 23 de novembro de 2008
Convite
Convite
A noite é sempre uma jornada
Venha, olha comigo o entardecer
E acompanha a sombra
Acordando na cidade
É o sonho que cria a noite
Anda comigo
No equilíbrio do meio fio
Mas a noite também dorme
No leito do universo
Só o que não é sonhado
É irrreversível
A noite também dorme
E de dia é preciso imaginá-la
A noite é sempre uma jornada
Venha, olha comigo o entardecer
E acompanha a sombra
Acordando na cidade
É o sonho que cria a noite
Anda comigo
No equilíbrio do meio fio
Mas a noite também dorme
No leito do universo
Só o que não é sonhado
É irrreversível
A noite também dorme
E de dia é preciso imaginá-la
sábado, 22 de novembro de 2008
Persistência
Como um amigo meu diz a GVT andou se "bobeando" comigo, por isso mas atrasos no blog. Mas eu resisto. Como um sentinela. Poesia é persistência. Portanto aí vai o de ontem e o de hoje:
Verso simples
Quero desnudar o amor
Num verso simples
Ver o corpo dos sentimentos difíceis
Ou estranhar a razão pelo o espelho
Calcinando o semblante da noite
Infância
Os homens preparam a infância
Inventando seus passados
Viver é memoriar
Sonhando as brincadeiras
Num pé de arvore mal formado
Ou numa roseta em pés descalços
A infância dos homens
É mormaço de bola
É um gol na gaiola
Aberta
Mirando um vôo
No olho do bodoque
É grito de mãe
Ao longe
Farofa na mesa
E beijo de tia
Infância sonhada
É um almoço inacabado
Verso simples
Quero desnudar o amor
Num verso simples
Ver o corpo dos sentimentos difíceis
Ou estranhar a razão pelo o espelho
Calcinando o semblante da noite
Infância
Os homens preparam a infância
Inventando seus passados
Viver é memoriar
Sonhando as brincadeiras
Num pé de arvore mal formado
Ou numa roseta em pés descalços
A infância dos homens
É mormaço de bola
É um gol na gaiola
Aberta
Mirando um vôo
No olho do bodoque
É grito de mãe
Ao longe
Farofa na mesa
E beijo de tia
Infância sonhada
É um almoço inacabado
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Problemas técnicos
olá pessoal
Bom, para quem anda acompanhando este blog, deve ter percebido que deixei de colocar poemas por três dias. Tive uns problemas técnicos, mas está tudo sob controle. No entanto, para não perder o embalo nem a aposta aí vão 3 poemas quentinhos:
À caminho do deserto
Para escrever um poema
Preciso de duas coisas:
Disciplina e solidão
Aos poucos vou descobrindo
Um deserto nas mãos
Um poema seca
Enquanto grãos de areia
Envolvem minhas pálpebras
Amar um deserto
É fácil
Ou Impossível
Escrever é doar-se
A si e aos outros
Por isso escrevo poemas para continuar lúcido
Escrevo poemas para salvar minha alma
Olhos tristes
Como são frágeis
Estes teus olhos nulos
E mesmo assim
Ainda sustentas um céu inteiro
Teu modo de olhar para as coisas
Me comove
Porque são sempre nos olhos
Que as pessoas são mais tristes
Ou mais felizes
Às vezes tu olhas para mim
Como quem perde um mar
Mas um mar não se perde
Ou se mergulha
Ou caminha-se nele
Um poema por dia:
Tigre saltando das folhagens
Flores partidas
Espinho sonhado
Noite veloz
Cansaço de pedra
Alegria montada num leão
Palavra maltratada
Improviso existencial
Disciplina
Palavra espicaçada
Verso apressado
Assunto manjado
Poema sem assunto
Palavra sacudida no escuro
Bom, para quem anda acompanhando este blog, deve ter percebido que deixei de colocar poemas por três dias. Tive uns problemas técnicos, mas está tudo sob controle. No entanto, para não perder o embalo nem a aposta aí vão 3 poemas quentinhos:
À caminho do deserto
Para escrever um poema
Preciso de duas coisas:
Disciplina e solidão
Aos poucos vou descobrindo
Um deserto nas mãos
Um poema seca
Enquanto grãos de areia
Envolvem minhas pálpebras
Amar um deserto
É fácil
Ou Impossível
Escrever é doar-se
A si e aos outros
Por isso escrevo poemas para continuar lúcido
Escrevo poemas para salvar minha alma
Olhos tristes
Como são frágeis
Estes teus olhos nulos
E mesmo assim
Ainda sustentas um céu inteiro
Teu modo de olhar para as coisas
Me comove
Porque são sempre nos olhos
Que as pessoas são mais tristes
Ou mais felizes
Às vezes tu olhas para mim
Como quem perde um mar
Mas um mar não se perde
Ou se mergulha
Ou caminha-se nele
Um poema por dia:
Tigre saltando das folhagens
Flores partidas
Espinho sonhado
Noite veloz
Cansaço de pedra
Alegria montada num leão
Palavra maltratada
Improviso existencial
Disciplina
Palavra espicaçada
Verso apressado
Assunto manjado
Poema sem assunto
Palavra sacudida no escuro
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Sândalo
Sândalo
Esquecer um sonho
É a tarefa do amanhecer
Mas lembrá-lo
Como um cheiro de sândalo esmaecido
É uma questão de sobrevivência
Esquecer um sonho
É a tarefa do amanhecer
Mas lembrá-lo
Como um cheiro de sândalo esmaecido
É uma questão de sobrevivência
domingo, 16 de novembro de 2008
sábado, 15 de novembro de 2008
Porto Alegre
Porto Alegre
Hoje a paisagem acordou molhada
Um cheiro úmido
Cobre os telhados
Um sol preguiçoso me olha
Pelas frestas das nuvens
Há em mim uma vontade
De ganhar esta cidade
Às vezes, Porto Alegre
Me cabe nos olhos
A solidão de uma poça lamacenta
Não espanta os pássaros
Da praça da Alfândega
Drummond e Quintana
Poetam pedras, ferros e ruas
As nuvens vencem o sol
O dia, hoje, não é meu
Nunca foi
Hoje o dia será dos que sabem chorar
Dos que sabem partir
Dos que sabem ser tristes
A mim só me caberá
Secar as poças da alma
Junto com o sol combalido
Poças são buracos
Que meus sapatos conhecem bem
Um passeio na rua da praia
Me acalma
E um cansaço de chuva
Faz esta cidade sentir
Um sol obliquo
Como se cada raio fosse
Um poema mandado por Deus
Um certo calor
Agrada o paladar da pele
Mas hoje o dia não é meu
Nunca foi
Hoje o dia será dos que sabem doer
Dos que sabem amar
Dos que sabem morrer
Hoje a paisagem acordou molhada
Um cheiro úmido
Cobre os telhados
Um sol preguiçoso me olha
Pelas frestas das nuvens
Há em mim uma vontade
De ganhar esta cidade
Às vezes, Porto Alegre
Me cabe nos olhos
A solidão de uma poça lamacenta
Não espanta os pássaros
Da praça da Alfândega
Drummond e Quintana
Poetam pedras, ferros e ruas
As nuvens vencem o sol
O dia, hoje, não é meu
Nunca foi
Hoje o dia será dos que sabem chorar
Dos que sabem partir
Dos que sabem ser tristes
A mim só me caberá
Secar as poças da alma
Junto com o sol combalido
Poças são buracos
Que meus sapatos conhecem bem
Um passeio na rua da praia
Me acalma
E um cansaço de chuva
Faz esta cidade sentir
Um sol obliquo
Como se cada raio fosse
Um poema mandado por Deus
Um certo calor
Agrada o paladar da pele
Mas hoje o dia não é meu
Nunca foi
Hoje o dia será dos que sabem doer
Dos que sabem amar
Dos que sabem morrer
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Isaura
Para Ondjaki e Luís Bernardo Honwana
Isaura
Isaura,
Pousa também teus olhos
Nas chagas do mundo
Pousa também teus olhos
Nas chagas do mundo
Depois concede teu abraço triste
No azul opaco e profundo
Que paira nos olhos desta vida
No azul opaco e profundo
Que paira nos olhos desta vida
Empresta tua singeleza
E enlaça novamente
Um cão tinhoso
E enlaça novamente
Um cão tinhoso
Coteja uma lágrima
Nesta terra fria
E ressuscita um cão sonhoso
Nesta terra fria
E ressuscita um cão sonhoso
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Sonho
Sonho
"Como podemos amar os outros?"
Assim resvala uma pergunta nítida
como uma chuva fria
Em uma pele quente
A pergunta vem dentro de um
Som exato que transpassa
os ouvidos da noite
Acompanhada de uma lâmina
afiada por Deus
"Como podemos amar os outros?"
Assim resvala uma pergunta nítida
como uma chuva fria
Em uma pele quente
A pergunta vem dentro de um
Som exato que transpassa
os ouvidos da noite
Acompanhada de uma lâmina
afiada por Deus
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Caminho
Caminho
Caminho entre a calçada
E o meio fio
Versos atrás de mim
Me acompanham
Mas nenhum deles
Me ultrapassa
E se revela para mim
Então tenho de olhar para trás
Mas olhar para trás
É descuidar do caminho
Tropeçar numa pedra
Pode apagar uma intuição
Porém me faz levantar mais lúcido do chão
Caminho entre a calçada
E o meio fio
Versos atrás de mim
Me acompanham
Mas nenhum deles
Me ultrapassa
E se revela para mim
Então tenho de olhar para trás
Mas olhar para trás
É descuidar do caminho
Tropeçar numa pedra
Pode apagar uma intuição
Porém me faz levantar mais lúcido do chão
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Prece
Prece
Senhor, ergui minha vida
Nos passos da honra
Meus passos foram celestes e serenos
Como uma carreira de formigas
Debrucei-me sobre as paragens da incerteza
E nunca, em momento algum,
Levantei um asco contra o céu
Mas agora, Senhor,
Vai morrendo em mim, à mingua,
Um pedaço do mundo
Cansei-me dos caminhos dignos
E da fome saciada pelos bons
Senhor, aponta-me
Os subúrbios da alma
Onde eu possa aprender
Os gestos dos intrusos
E a arrogância dos sensatos
Quero o amor das pedras
Quero o martírio da paciência
Numa fogueira desolada
Quero ser o juiz como Xangô
Quero inquirir a existência com a altivez
De uma espada empunhada
Pelo povo da noite
Perdoa- me, Senhor, pelos gestos
Atrozes que deixei de cometer
Dê-me uma existência nova
E permita que eu sente ao lado dos trapaceiros
Os mesmos que enganaram a morte
Permita, Senhor, que um som partido
Me conduza pelos terreiros da vidência
E que eu seja pronunciado ao amanhecer
Apenas com as trombetas do silêncio
Mostra-me, Senhor, a outra face do mundo
A que perjura
A que difama
Pela língua dos que mentem
Nascerão orquídeas esfaceladas
Onde uma chuva bondosa
Regará a velhice de suas pétalas
Senhor, ata-me ao início das águas
E conta-me o que há em cada lágrima de Oxum
Abre meus caminhos
Numa relva não há trilhas
Entre a encruzilhada
E o terreiro
Se mede a idade do tempo
A ilha, como dissestes, é o homem
Atormentado pelo galope de viver
Senhor, abandona-me a madruga
Num sonho de Morfeu
Escuta-me um instante
Orfeu negro me acompanha nesta prece
Senhor, leva-me pelos bosques
E deixa-me ouvir a razão dos injustos
Senhor, ergui minha vida
Nos passos da honra
Meus passos foram celestes e serenos
Como uma carreira de formigas
Debrucei-me sobre as paragens da incerteza
E nunca, em momento algum,
Levantei um asco contra o céu
Mas agora, Senhor,
Vai morrendo em mim, à mingua,
Um pedaço do mundo
Cansei-me dos caminhos dignos
E da fome saciada pelos bons
Senhor, aponta-me
Os subúrbios da alma
Onde eu possa aprender
Os gestos dos intrusos
E a arrogância dos sensatos
Quero o amor das pedras
Quero o martírio da paciência
Numa fogueira desolada
Quero ser o juiz como Xangô
Quero inquirir a existência com a altivez
De uma espada empunhada
Pelo povo da noite
Perdoa- me, Senhor, pelos gestos
Atrozes que deixei de cometer
Dê-me uma existência nova
E permita que eu sente ao lado dos trapaceiros
Os mesmos que enganaram a morte
Permita, Senhor, que um som partido
Me conduza pelos terreiros da vidência
E que eu seja pronunciado ao amanhecer
Apenas com as trombetas do silêncio
Mostra-me, Senhor, a outra face do mundo
A que perjura
A que difama
Pela língua dos que mentem
Nascerão orquídeas esfaceladas
Onde uma chuva bondosa
Regará a velhice de suas pétalas
Senhor, ata-me ao início das águas
E conta-me o que há em cada lágrima de Oxum
Abre meus caminhos
Numa relva não há trilhas
Entre a encruzilhada
E o terreiro
Se mede a idade do tempo
A ilha, como dissestes, é o homem
Atormentado pelo galope de viver
Senhor, abandona-me a madruga
Num sonho de Morfeu
Escuta-me um instante
Orfeu negro me acompanha nesta prece
Senhor, leva-me pelos bosques
E deixa-me ouvir a razão dos injustos
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Diferenças
Diferenças
Todo o silêncio é diferente
O silêncio da pedra é permanência
O silêncio do mar é ilusão
O silêncio de Deus é a sua obra
Às vezes, o silêncio
Sangra as vozes estilhaçadas
Um grito assassinado
Dorme nos lábios mordidos
Só os dentes sabem ranger o silêncio
Todo o silêncio é veloz
Como o lampejo de uma chama
Todo o silêncio é diferente
O silêncio da pedra é permanência
O silêncio do mar é ilusão
O silêncio de Deus é a sua obra
Às vezes, o silêncio
Sangra as vozes estilhaçadas
Um grito assassinado
Dorme nos lábios mordidos
Só os dentes sabem ranger o silêncio
Todo o silêncio é veloz
Como o lampejo de uma chama
domingo, 9 de novembro de 2008
Vento encilhado
Vento encilhado
Encilhar o vento
E cavalgar nele as eras
E também as idades que não se contam
Domar o vento é uma forma de existir
Dentro dele ou fora dele
O mundo ainda gira
Conforme a bondade do tempo
Num vento pode-se cavalgar a velhice de um ponteiro
Que tempo também envelhece
Agindo nas palavras
Encilhar o vento
E cavalgar nele as eras
E também as idades que não se contam
Domar o vento é uma forma de existir
Dentro dele ou fora dele
O mundo ainda gira
Conforme a bondade do tempo
Num vento pode-se cavalgar a velhice de um ponteiro
Que tempo também envelhece
Agindo nas palavras
sábado, 8 de novembro de 2008
Trajeto
Trajeto
Meu arcabouço de palavras
Se abre quando a claridade
Se movimenta
A nitidez da névoa
Exerce uma vidência
No destino em que piso
Como o mar
Que já sabe o trajeto da praia
Meu destino é a metáfora
Meu trajeto são palavras ao longe
Que retumbam num coração selvagem
Meu arcabouço de palavras
Se abre quando a claridade
Se movimenta
A nitidez da névoa
Exerce uma vidência
No destino em que piso
Como o mar
Que já sabe o trajeto da praia
Meu destino é a metáfora
Meu trajeto são palavras ao longe
Que retumbam num coração selvagem
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Barco à deriva
Barco à deriva
Minha poesia é um barco à deriva
Abandonado pelo tempo
E abraçada pelo mar
Sou um naufrago
Aplacado pelo cantos das sereias
As ondas quebradas
Passaram a ser a minha morada
A noite me guarda
Entre seus dedos
"Netuno, conta-me
Um segredo?"
"Onde mar foi inventado?"
"Em que lugar do oceano não se encontra o medo?"
"O que sonham os peixes?"
Minha poesia é um barco à deriva
Como a solidão aberta em águas
Minha poesia é um barco à deriva
Abandonado pelo tempo
E abraçada pelo mar
Sou um naufrago
Aplacado pelo cantos das sereias
As ondas quebradas
Passaram a ser a minha morada
A noite me guarda
Entre seus dedos
"Netuno, conta-me
Um segredo?"
"Onde mar foi inventado?"
"Em que lugar do oceano não se encontra o medo?"
"O que sonham os peixes?"
Minha poesia é um barco à deriva
Como a solidão aberta em águas
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Ao começo
Ao começo
Para chegar ao começo
Preciso nutrir meus olhos
Com a força arcaica das pedras
E assim desgirar o mundo
Até as profundezas da criação
Depois, desterrar a larva das montanhas
E pisar na terra mais antiga que o chão
Doer os ossos do princípio
É preciso ter coragem para voejar o começo
A arqueologia do mundo
É um alma tombada pelo tempo
Volto ao início
Com uma palavra renascida
Regressar é a minha condição
Para chegar ao começo
Preciso nutrir meus olhos
Com a força arcaica das pedras
E assim desgirar o mundo
Até as profundezas da criação
Depois, desterrar a larva das montanhas
E pisar na terra mais antiga que o chão
Doer os ossos do princípio
É preciso ter coragem para voejar o começo
A arqueologia do mundo
É um alma tombada pelo tempo
Volto ao início
Com uma palavra renascida
Regressar é a minha condição
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Diante de ti
Para Deisi
Diante de ti
Diante de ti a tristeza emudece
Amarguras naufragam
Beija-flores provocam revoluções e metáforas
Nos jardins
Sete lágrimas de felicidade
Te recebem
Asas do teu sorriso
Secam o rosto do tempo
Semeiam auroras
Lavram o infinito
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Sonata ao luar
Sonata ao luar
A vida é um assombro
Dos meus espantos nascem pássaros
E pássaros são sempre eternos
Como uma sonata ao luar
Toda vez que um pássaro voa
Um tempo novo atravessa as idades
Restabelecendo sobre o mar
Um breve rumor de eternidades
A vida é um assombro
Dos meus espantos nascem pássaros
E pássaros são sempre eternos
Como uma sonata ao luar
Toda vez que um pássaro voa
Um tempo novo atravessa as idades
Restabelecendo sobre o mar
Um breve rumor de eternidades
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Último reduto
Último reduto
Tenho uma rotina nos olhos:
Vasculhar beleza pelos cantos
O céu para mim é um segredo revelado
Lucidez é ouvir um trovão
Deus é uma coragem minha
Que ainda não sei bem
Meu desafio é ser um santo sem Ele
Tornar-me sagrado nesta terra
E o sagrado está na sua ausência
A poesia é meu último reduto
A última forma divina
Tenho uma rotina nos olhos:
Vasculhar beleza pelos cantos
O céu para mim é um segredo revelado
Lucidez é ouvir um trovão
Deus é uma coragem minha
Que ainda não sei bem
Meu desafio é ser um santo sem Ele
Tornar-me sagrado nesta terra
E o sagrado está na sua ausência
A poesia é meu último reduto
A última forma divina
domingo, 2 de novembro de 2008
Caverna
Caverna
Quando escrevo uma tristeza
É porque meus sentidos vão bem
Poemas não sofrem
Quem sofre são os homens
E os seus delírios
Uma dor não pode ser publicada
Quando escrevo uma tristeza
Tateio Platão
Vou tateando a caverna
Até esbarrar numa palavra
Depois saio a cata
De um isqueiro e de uma vela
Que me ilumine paredes e versos
Quando escrevo uma tristeza
É porque meus sentidos vão bem
Poemas não sofrem
Quem sofre são os homens
E os seus delírios
Uma dor não pode ser publicada
Quando escrevo uma tristeza
Tateio Platão
Vou tateando a caverna
Até esbarrar numa palavra
Depois saio a cata
De um isqueiro e de uma vela
Que me ilumine paredes e versos
sábado, 1 de novembro de 2008
Palavra definitiva
Palavra definitiva
Minha palavra é definitiva
Somente neste instante
Amanhã serei outro
E serei o mesmo também
A palavra é raiz movente
Meu regresso começa na partida
Só vejo quando não olho
Olhar é ilusão
Sentir é um modo de estar vivo
Toda a palavra é definitiva
Quando reconhece o instante
Minha palavra é definitiva
Somente neste instante
Amanhã serei outro
E serei o mesmo também
A palavra é raiz movente
Meu regresso começa na partida
Só vejo quando não olho
Olhar é ilusão
Sentir é um modo de estar vivo
Toda a palavra é definitiva
Quando reconhece o instante
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Rumor da Poesia
Rumor da Poesia
O rumor da poesia
Entende o universo
E compreende que a palavra
É um milagre de Deus
A criação de um poema
Caminha na rua
Comigo.
A luz da manhã
Me diz que
As palavras, às vezes, são
As ruínas do tempo
Aprendo que a palavra é inesgotável
Quando dorme ao sol
O rumor da poesia
Entende o universo
E compreende que a palavra
É um milagre de Deus
A criação de um poema
Caminha na rua
Comigo.
A luz da manhã
Me diz que
As palavras, às vezes, são
As ruínas do tempo
Aprendo que a palavra é inesgotável
Quando dorme ao sol
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Poço
Poço
Hoje sinto-me capaz
De dizer tudo
Sinto-me capaz de cantar a dor dos que caem
No poço
No poço dentro do poço
Cantar aqueles que amam além da conta
E se contentam com migalhas de carícias
Hoje sou capaz de cantar
A partida e o regresso
A incompreensão e a delicadeza
Sinto-me tão capaz
Que posso ainda acordar o sono
Abrir o dia
E deitá-lo nos braços da noite
Hoje sinto-me capaz
De dizer tudo
Sinto-me capaz de cantar a dor dos que caem
No poço
No poço dentro do poço
Cantar aqueles que amam além da conta
E se contentam com migalhas de carícias
Hoje sou capaz de cantar
A partida e o regresso
A incompreensão e a delicadeza
Sinto-me tão capaz
Que posso ainda acordar o sono
Abrir o dia
E deitá-lo nos braços da noite
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
À caminho
À caminho
Passado são migalhas
O futuro é um sigilo
E me contento com isso!
O tempo me resigna
Mas cair é um fato
Voar é uma escolha
Só o presente é voável
Heidegger me observa:
Vou sendo
Sou um poeta à caminho
Meu destino é a intuição
Como um tigre acuado
O passado é uma nesga
O futuro:
Des
ca
minho.
Passado são migalhas
O futuro é um sigilo
E me contento com isso!
O tempo me resigna
Mas cair é um fato
Voar é uma escolha
Só o presente é voável
Heidegger me observa:
Vou sendo
Sou um poeta à caminho
Meu destino é a intuição
Como um tigre acuado
O passado é uma nesga
O futuro:
Des
ca
minho.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Poema triste
Poema triste
Estou sentado na orla da praia
A tormenta ainda não desabou
O céu retém as nuvens pesadas
Como se estivesse retendo
No peito mágoas amalgamadas
A areia seca conforta meus pés
O mar tange a minha dor
Com seus movimentos bruscos e oblíquos
Um vento lapida meu olhar
Minha tristeza é justa
Como estas nuvens cinzas que pesam sobre o mar
O oceano me protege
Lá no silêncio do horizonte
Toda a tempestade
São as dores que o mar ecoa.
Uma chuva fina
Cobre os meus gestos
Nuvens começam
O regresso
Estou sentado na orla da praia
A tormenta ainda não desabou
O céu retém as nuvens pesadas
Como se estivesse retendo
No peito mágoas amalgamadas
A areia seca conforta meus pés
O mar tange a minha dor
Com seus movimentos bruscos e oblíquos
Um vento lapida meu olhar
Minha tristeza é justa
Como estas nuvens cinzas que pesam sobre o mar
O oceano me protege
Lá no silêncio do horizonte
Toda a tempestade
São as dores que o mar ecoa.
Uma chuva fina
Cobre os meus gestos
Nuvens começam
O regresso
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Elogio ao instante
Elogio ao instante
O instante desaba sobre meus ombros
E sinto uma vontade chorar
Tenho nos olhos resquícios de tristeza
Vazios preenchem meu corpo
Como lírios transparentes
O tempo já sabe as borboletas
Por isso as torna infinitas
Em duas semanas
O tempo sabe ausência do amor
Os homens nascem para a eternidade
E só deixam de ser eternos
Quando deixam de amar
Sinto uma dor
Ao saber que o instante
Nos dias de hoje,
É sempre passado
Mas toda a existência é um instante
Em tempos como estes
Em que o instante não existe
Em que a rapidez
É o que persiste
Resistir é que nos resta.
Resistir é amar.
O instante desaba sobre meus ombros
E sinto uma vontade chorar
Tenho nos olhos resquícios de tristeza
Vazios preenchem meu corpo
Como lírios transparentes
O tempo já sabe as borboletas
Por isso as torna infinitas
Em duas semanas
O tempo sabe ausência do amor
Os homens nascem para a eternidade
E só deixam de ser eternos
Quando deixam de amar
Sinto uma dor
Ao saber que o instante
Nos dias de hoje,
É sempre passado
Mas toda a existência é um instante
Em tempos como estes
Em que o instante não existe
Em que a rapidez
É o que persiste
Resistir é que nos resta.
Resistir é amar.
domingo, 26 de outubro de 2008
Criação
Criação
Aquilo que a imaginação secreta
Me serve de espelhos
Imaginar é mais importante que conhecer
Imaginar é o tempo pelo avesso
A criação não sabe voar para fora
Porque voa para dentro de nós
Beija-flores me exercem
Toda vez que imagino
Um sonho é adivinhado
A criação inventa
A poesia realiza
Criar é ter coragem
Uma chuva sonhada
È o pesadelo do deserto
Existo. Imaginando.
A criação não tem idade
Não envelhece
Como os sonhos
Aquilo que a imaginação secreta
Me serve de espelhos
Imaginar é mais importante que conhecer
Imaginar é o tempo pelo avesso
A criação não sabe voar para fora
Porque voa para dentro de nós
Beija-flores me exercem
Toda vez que imagino
Um sonho é adivinhado
A criação inventa
A poesia realiza
Criar é ter coragem
Uma chuva sonhada
È o pesadelo do deserto
Existo. Imaginando.
A criação não tem idade
Não envelhece
Como os sonhos
sábado, 25 de outubro de 2008
Ela
Para Deisi
Ela
Às vezes elas me vem
Como uma borboleta
Soletro o seu nome
Como se fossem flores
De dia
Seca os cabelos ao sol
À noite
Inventa palavras pela lua
Corrige minha intuição
Com um sopro de bondade
"A vida é um sonho", ela sussurra
Mais tarde...
Ela veste a madrugada
Com seu corpo de estrelas
Seus olhos choram orvalhos
Abençoando begônias e violetas
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
A poesia provocada
A poesia provocada
A poesia é a aparição da linguagem
Dentro dela residem palavras
Modeladas pelo tempo
A poesia conhece abismos
A palavra exerce o salto
Mas sejamos práticos:
O destino da palavra é nomear
E o que nomeia revela
O mundo se desvenda, palavrando.
Tudo é linguagem
E para mim é o que basta!
A palavra não filosofa
Age sobre vida
Quem filosofa são os homens
Vamos, sejamos pragmáticos!
O destino da palavra é substantivar
A existência
A palavra tatua na língua
A linguagem dos ventos
E o vento precisa ser compreendido
Para equilibrar o vôo dos poemas
A poesia é a aparição da linguagem
Dentro dela residem palavras
Modeladas pelo tempo
A poesia conhece abismos
A palavra exerce o salto
Mas sejamos práticos:
O destino da palavra é nomear
E o que nomeia revela
O mundo se desvenda, palavrando.
Tudo é linguagem
E para mim é o que basta!
A palavra não filosofa
Age sobre vida
Quem filosofa são os homens
Vamos, sejamos pragmáticos!
O destino da palavra é substantivar
A existência
A palavra tatua na língua
A linguagem dos ventos
E o vento precisa ser compreendido
Para equilibrar o vôo dos poemas
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Um poema
Um poema
Um poema não sabe toda vida
Mas sabe algo sobre ela
Pode um poema medir
A eternidade
E a eternidade cabe é na infância de Deus
Um poema convida para
O mistério
E revela a perplexidade
Das coisas findas
Uma poema não diz a verdade
Pressente
Um poema não sabe toda vida
Mas sabe algo sobre ela
Pode um poema medir
A eternidade
E a eternidade cabe é na infância de Deus
Um poema convida para
O mistério
E revela a perplexidade
Das coisas findas
Uma poema não diz a verdade
Pressente
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Poema da saudade
Para Deisi
Poema da saudade
Hoje acordei
Com dois poemas
Nos olhos:
Um se partiu ao sol
O outro, consolou-me
A tua ausência
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Longa jornada noite adentro
Para Walt Whitman (parte II)
Longa jornada noite adentro
Muito bem!
Chegou a hora
De esclarecer algumas coisas
Ouçam todos:
Longa jornada noite adentro
Muito bem!
Chegou a hora
De esclarecer algumas coisas
Ouçam todos:
Esta noite meus versos irão revelar
A substância que age no mistério
A substância que age no mistério
Esta é a noite em que a lucidez cairá sobre todos
Como estrelas cadentes
Despencando do céu em chamas
Como estrelas cadentes
Despencando do céu em chamas
Esta noite escreverei os versos mais sinceros
Com uma sinceridade que abrange os anjos
Com uma sinceridade que abrange os anjos
Sentem-se, por favor
É que um mistério
Demora para ser contado
É que um mistério
Demora para ser contado
A lucidez é a ausência
Do sonho
Do sonho
Só se vive imaginando
Agora estes versos me imaginam
E também vocês vão sendo imaginados
E também vocês vão sendo imaginados
Esta noite vou tentar eliminar minhas contradições
Serei reto como um poema em linha reta
Tentarei ser claro, mesmo sonhando a escuridão
Serei reto como um poema em linha reta
Tentarei ser claro, mesmo sonhando a escuridão
Deixarei de acreditar em Deus
Porque Deus é ausência
Porque Deus é ausência
Mas Deus é meu herói
(Permitam-me mais esta contradição)
(Permitam-me mais esta contradição)
Às vezes, a contradição é a única forma
De se defender contra verdade
De se defender contra verdade
Esperem um pouco
Vou abrir as janelas
E ver o mundo por dentro e por fora
Ouvir os sinos da igreja
Lamentando o fim do dia
Vou abrir as janelas
E ver o mundo por dentro e por fora
Ouvir os sinos da igreja
Lamentando o fim do dia
De agora em diante
A madrugada será minha metáfora
E a de vocês também
A madrugada será minha metáfora
E a de vocês também
Neste instante a ausência de Deus
Nos protege
Nos protege
A madrugada é um segredo
A performance da noite é pelo sonho
Mas esta noite só desejo o simples
Escrevo para os corações selvagens e domados
Escrevo para os corações selvagens e domados
Quando as coisas são simples
Escuta-se o som das estrelas
Escuta-se o som das estrelas
Um segredo só pode ser contado à noite
A manhã é lúcida demais para ouvir um mistério
Agora...
Permitam-me que eu descanse
Os sonhos e as palavras
Permitam-me que eu descanse
Os sonhos e as palavras
Levantem-se todos
Já é hora de acordar
Já é hora de acordar
E se decidirem ir embora
Por favor, apaguem a luz
Mas não fechem a porta
Por favor, apaguem a luz
Mas não fechem a porta
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Palavra
Palavra
Cada palavra é uma história
Há em cada uma delas uma vontade
De ser livre
Toda palavra tem sua verdade
Mas só desejo a palavra sonhada
Aquela que revela o segredo das mariposas
Todos os seres sonham seus
Passados e futuros
Palavras sonham gerânios
Toda palavra é um poema
Uma obra contida em si
É ela que me gera
E me põe em contato com
O fundo das estrelas
Cada palavra é uma história
Há em cada uma delas uma vontade
De ser livre
Toda palavra tem sua verdade
Mas só desejo a palavra sonhada
Aquela que revela o segredo das mariposas
Todos os seres sonham seus
Passados e futuros
Palavras sonham gerânios
Toda palavra é um poema
Uma obra contida em si
É ela que me gera
E me põe em contato com
O fundo das estrelas
domingo, 19 de outubro de 2008
Sobre a metáfora
Sobre a metáfora
Só a metáfora pode domar o tempo
Porque é nela que as horas repousam
A metáfora conhece a vida íntima de Deus
E o poema sabe disso.
Deus é um segredo meu.
Para mim Ele já está revelado
E o que posso dizer
É que Deus trabalha à noite
Sonhando o futuro
(A metáfora é a língua do tempo)
Mas a noite já sonhava
Com seu nascimento
Antes mesmo de ser sonhada
Às vezes, Deus vai dormir dentro do mar
Porque o mar é o profeta das metáforas
Só a metáfora pode domar o tempo
Porque é nela que as horas repousam
A metáfora conhece a vida íntima de Deus
E o poema sabe disso.
Deus é um segredo meu.
Para mim Ele já está revelado
E o que posso dizer
É que Deus trabalha à noite
Sonhando o futuro
(A metáfora é a língua do tempo)
Mas a noite já sonhava
Com seu nascimento
Antes mesmo de ser sonhada
Às vezes, Deus vai dormir dentro do mar
Porque o mar é o profeta das metáforas
sábado, 18 de outubro de 2008
Rito
Rito
Nascer um poema exige ritos
Uma certa cerimônia com as estrelas
Uma observância na índole da noite
E um certo sentimento de mar
(Preciso, às vezes, beliscar um anjo de Rilke)
A travessura das crianças
Também me preparam para um poema
A intuição é a conciliação
Do homem com a poesia
O clarão é a rotina do poeta
Acho que não tenho um estilo
O estilo sou eu mesmo
Minha obra é a minha relação
Com a vida
E a vida é um instante
E um poeta deve saber disso
Nascer um poema exige ritos
Uma certa cerimônia com as estrelas
Uma observância na índole da noite
E um certo sentimento de mar
(Preciso, às vezes, beliscar um anjo de Rilke)
A travessura das crianças
Também me preparam para um poema
A intuição é a conciliação
Do homem com a poesia
O clarão é a rotina do poeta
Acho que não tenho um estilo
O estilo sou eu mesmo
Minha obra é a minha relação
Com a vida
E a vida é um instante
E um poeta deve saber disso
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Reflexo
Reflexo
Reter o tempo num espelho
É refletir a luz sincera
Que revela os horizontes
A imagem do tempo
É também a minha
A noite é uma dor refletida
Refazendo minha face
A cada dia
Reter o tempo num espelho
É refletir a luz sincera
Que revela os horizontes
A imagem do tempo
É também a minha
A noite é uma dor refletida
Refazendo minha face
A cada dia
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O rugido da memória
O rugido da memória
Minha memória
É um leão ferido
Passeando sobre o coração
Rugindo vestígios
Sobre a relva da alma
Mas um leão ferido
Ainda é um leão
Mesmo cambaleando
E acossado pela
Dor
Um leão é capaz de atacar
Dentro da noite
No sonho dentro do sonho
Na lucidez dentro da lucidez
Minha memória é um rugido
Acometido pelo tempo
Minha memória
É a sobrevivência da fera
Em movimento
Deus envelhece na sabedoria do leão
Minha lembrança é um Deus envelhecido
Todo leão carrega nos olhos
O instinto de ser sábio
A memória do leão sonha
Hienas, lebres e coelhos
Mas pode sonhar também
Lírios selvagens
Minha lembrança são esses lírios
A ferida num leão
É uma dor que repousa no tempo
Mas um leão ferido
Ainda é um leão
E ataca.
Minha memória
É um leão ferido
Passeando sobre o coração
Rugindo vestígios
Sobre a relva da alma
Mas um leão ferido
Ainda é um leão
Mesmo cambaleando
E acossado pela
Dor
Um leão é capaz de atacar
Dentro da noite
No sonho dentro do sonho
Na lucidez dentro da lucidez
Minha memória é um rugido
Acometido pelo tempo
Minha memória
É a sobrevivência da fera
Em movimento
Deus envelhece na sabedoria do leão
Minha lembrança é um Deus envelhecido
Todo leão carrega nos olhos
O instinto de ser sábio
A memória do leão sonha
Hienas, lebres e coelhos
Mas pode sonhar também
Lírios selvagens
Minha lembrança são esses lírios
A ferida num leão
É uma dor que repousa no tempo
Mas um leão ferido
Ainda é um leão
E ataca.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Preguiça
Preguiça
O sol derrama sua ternura sobre mim
Levantar da cama é sempre um acordo
Com a preguiça
(Arrumar a cama
é prever o dia)
Um passarinho pousa na janela
E escuta o repouso dos meus sonhos
Depois leva no bico
Um pedaço de palavra adormecida
E dá de comer aos filhotes
E estes hão de espalhar
Seus cantos
Para nascer madrugadas
O sol derrama sua ternura sobre mim
Levantar da cama é sempre um acordo
Com a preguiça
(Arrumar a cama
é prever o dia)
Um passarinho pousa na janela
E escuta o repouso dos meus sonhos
Depois leva no bico
Um pedaço de palavra adormecida
E dá de comer aos filhotes
E estes hão de espalhar
Seus cantos
Para nascer madrugadas
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Perder o tempo
Perder o tempo
É preciso perder o tempo
No sossego das lesmas
Desmanchar a pressa
Num amor demorado
Perder o tempo
É por a alma em movimento
Agora me despi
Do hálito das horas
Agora perco o tempo
Em folhas caídas
E em tardes sussurradas
Deixo o tempo
Na pressa da chama
E depois...
Me permito poemar
Na cama
É preciso perder o tempo
No sossego das lesmas
Desmanchar a pressa
Num amor demorado
Perder o tempo
É por a alma em movimento
Agora me despi
Do hálito das horas
Agora perco o tempo
Em folhas caídas
E em tardes sussurradas
Deixo o tempo
Na pressa da chama
E depois...
Me permito poemar
Na cama
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Destino
Destino
Icei a vela
Do barco de mim mesmo
Carregando a vontade
De um lampejo
Onde tu pressintas minha chegada
Teu continente é o meu destino
Teu coração
Minha morada
Icei a vela
Do barco de mim mesmo
Carregando a vontade
De um lampejo
Onde tu pressintas minha chegada
Teu continente é o meu destino
Teu coração
Minha morada
domingo, 12 de outubro de 2008
Noturno
Noturno
Meus olhos mergulham noite adentro
Depois emergem do profundo
Ouço pássaros na sombra
Ouço cantos
Eles anunciam a lucidez do dia
E enquanto adormeço serenamente
A noite me sonha
Meus olhos mergulham noite adentro
Depois emergem do profundo
Ouço pássaros na sombra
Ouço cantos
Eles anunciam a lucidez do dia
E enquanto adormeço serenamente
A noite me sonha
sábado, 11 de outubro de 2008
Céus de rapina
Céus de rapina
Meu coração
É o céu
Onde voam
Aves de rapina
Na direção selvagem
E repentina
Sons e ventos
Milagram
A fúria das nuvens
Meu coração
Galopa céu adentro
A paz está selada
Meu coração é sossego
Depois da
Tempestade instalada
Meu coração
É o céu
Onde voam
Aves de rapina
Na direção selvagem
E repentina
Sons e ventos
Milagram
A fúria das nuvens
Meu coração
Galopa céu adentro
A paz está selada
Meu coração é sossego
Depois da
Tempestade instalada
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Poema sonhado
Para Adélia Prado
Poema sonhado
Sinto um sono justo
Que me percorre a espinha
Um sono profundo
Adormeci meus
Pensamentos
Na cama quente
Dos sentidos
Um poema nasce
Sonhado
Deus acomoda
Meu abandono
Entre as mãos
E um vento sussurrado
Me desperta entre os seus vãos
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Oração
Para Deisi
Oração
Teu sussurro é uma oração
Pondo em movimento
O espirito das pedras
Teu verso sagrado
Excita a madrugada
Orvalhando as manhãs
E o perfume que exalas
Salva o dia
Protegendo o amor dos pássaros
Nas tardes quentes de verão
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Farol
Farol
Minha tristeza é solitária
Como um cão molhado
Vagando pela chuva
A solidão é um farol apagado
Mar aberto
Poema calado
Minha tristeza é solitária
Como um cão molhado
Vagando pela chuva
A solidão é um farol apagado
Mar aberto
Poema calado
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Um poema também morre
Para Monsieur Teste e Paul Valéry
Um poema também morre
Um poema também morre
Quando, no fundo da estante,
Permanece fechado
Um poema morre
Quando a poeira conforta suas palavras
Ou quando o esquecimento é sua rotina
A morte de um poema
É a palavra de abismo
É a perda dos sentidos
Fim intelectual
Marcha fúnebre do sentimento
domingo, 5 de outubro de 2008
Mensagem
Mensagem
Mar,
Recolhe as palavras
Que o vento deixa cair
E com elas elabora
O movimento das marés
Com a língua das águas
Marca a terra
Com um verso longínquo
Depois, guardas um
Poema numa concha
E envia aos homens
Através das ondas
Como se cada estrondo
Fosse uma estrofe de Camões
Mar,
Recolhe as palavras
Que o vento deixa cair
E com elas elabora
O movimento das marés
Com a língua das águas
Marca a terra
Com um verso longínquo
Depois, guardas um
Poema numa concha
E envia aos homens
Através das ondas
Como se cada estrondo
Fosse uma estrofe de Camões
sábado, 4 de outubro de 2008
Beatriz
O espetáculo "Beatriz - a beleza e tristeza" está de volta. Lá na Usina do Gasômetro. A peça é inspirada num conto de minha autoria e em dois poemas: um da Gerusa Marques e outro, do Diego Petrarca. Assisti ao espetáculo duas vezes, e ver o próprio texto adaptado para o teatro não deixe de ser algo prazeroso. Tenho a noção de que toda a adptação de um texto literário transforma-se em outra obra. Claro que a tentação de comparar é quase inevitável. Portanto, as "Beatrizes" tanto a do meu conto, quanto a da peça carregam o mistério que cerca o universo feminino e a sua idealização através universo masculino ou como bem escreveu Antônio Hohlfeldt em uma crítica sobre a peça: "A idealização dessa Beatriz às potenciais imagens que Beatriz poderia assumir desdobram-se imagens do feminino, do humano, da beleza e da tristeza". No entanto, o que se passa em meu conto é na verdade uma Beatriz incompreendida, que abandona o marido "não para fugir dele, mas dela mesma".
As pessoas que leram o conto tem me perguntado quais seriam os motivos que levaram Beatriz a abandonar o marido já que viviam uma vida tão bela e intensa, e eu respondo que não sei, porque é uma questão que só ela pode responder. Talvez a Performance de Fernanda Carvalho Leite responda um pouco por esta questão já que lá pelas tantas, no espetáculo, ela pergunta para onde Beatriz teria ido e quais teriam sido os seus motivos elencando, assim, uma série de possibilidades para a personagem.
O espetáculo é poético, sem dúvida, a música tocada ao vivo e a dança tornam a peça tanto bela como triste, bem como sugere o título.
E cumprindo a minha aposta comigo mesmo, aí vai mais um poema:
Chuva
A tristeza começa no silêncio
Gotas no zinco
Comovem pássaros e árvores
Encosto palavras no vidro da janela
Os olhos desenham o frio
Gotas no zinco
Comovem pássaros e árvores
Encosto palavras no vidro da janela
Os olhos desenham o frio
No vidro embaçado
Mãos silenciosas tecem o céu cinzento
Desamparo e sossego caem sobre os telhados
Mãos silenciosas tecem o céu cinzento
Desamparo e sossego caem sobre os telhados
O vento acena com folhas de laranjeira
Aqui dentro a ausência perdura
Mas lá fora a chuva é passageira
Aqui dentro a ausência perdura
Mas lá fora a chuva é passageira
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Ulisses negro
Para Homero
Ulisses Negro
Quando Ogum tocou o mar
Trazia nos olhos
A vertigem das ondas
Nas mãos, a coragem da espada
E nos gestos, a solidão do vento
Jangada de pedra
Pedaços de África
Navegam sob seus pés
(Que em terra não se navega o equilíbrio)
Com a espada risca o sol
E parte o dia em dois
As mulheres do mar verdejavam
Sobre as águas
E toda a mulher que entra no mar
Torna-se encantada
Ogum nunca tapou os ouvidos para as sereias
Ao contrário; ouviu-as e depois cantou para elas
Um canto triste
Alegre e pungente
Como a voz de um atabaque
"Minha voz é um sopro
no ouvido do mundo"
À noite, Ogum avança
Cingindo as águas
Em sua memória
Abraça as sereias
Salvando-as
Da dor do esquecimento
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Profundidades
Para João Cabral
Profundidades
Há mais profundidade
Na resistência das rochas
Que no fundo do mar
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Vento sóbrio
Vento sóbrio
O vento sóbrio da primavera se pergunta:
De quantas saudades são feitas as plantas?
E quantos desertos
Cabem na alma de Deus?
O tempo ensina:
Flores são belas
Porque ultrapassam a dor de crescer
A terra colhe
Uma pétala esmaecida
Que flores só são lembradas
Ou quando são roubadas
Ou quando são esquecidas
O vento sóbrio da primavera se pergunta:
De quantas saudades são feitas as plantas?
E quantos desertos
Cabem na alma de Deus?
O tempo ensina:
Flores são belas
Porque ultrapassam a dor de crescer
A terra colhe
Uma pétala esmaecida
Que flores só são lembradas
Ou quando são roubadas
Ou quando são esquecidas
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Aprendizagem
Aprendizagem
A aprendizagem da noite
É pelo sonho
Ouvir o mar é da infância
Viver é saber a noite
Antes que anoiteça
Saber o mar é da velhice
A aprendizagem da noite
É pelo sonho
Ouvir o mar é da infância
Viver é saber a noite
Antes que anoiteça
Saber o mar é da velhice
domingo, 28 de setembro de 2008
Sartre e as palavras
De tudo que Sartre escreveu, talvez o mais significativo não esteja no seu tratado existencialista, ou nos romances, nem em suas peças e contos. Mas num livro de memórias chamado "As palvras" (le mots). Trata-se de um relato poético sobre a sua infâcia e o seu amor pelos livros. Há em todo livro frases desconcertantes como: " os livros foram meus passarinhos e meus ninhos, meus animais domésticos, meu estábulo e meu campo: a biblioteca era o mundo colhido no espelho e tinha sua espessura infinita" ou "Eu achara a minha religião: nada me pareceu mais importante do que um livro".
No entanto, a frase mais pertubadora é "comecei minha vida como hei de acabá-la, sem dúvida no meio dos livros". Pertubadora, porque o amor pelos livros pode ser algo perigoso a ponto de acabarmos por trocar as pessoas pelos livros. No meu caso é diferente, talvez eu acabe no meio dos livros por outro motivo, talvez eu a Deisi sejamos, literalmente, soterrados por eles neste exíguo apartamento.
Neste sentido, acho que Sartre tem razão.
No entanto, a frase mais pertubadora é "comecei minha vida como hei de acabá-la, sem dúvida no meio dos livros". Pertubadora, porque o amor pelos livros pode ser algo perigoso a ponto de acabarmos por trocar as pessoas pelos livros. No meu caso é diferente, talvez eu acabe no meio dos livros por outro motivo, talvez eu a Deisi sejamos, literalmente, soterrados por eles neste exíguo apartamento.
Neste sentido, acho que Sartre tem razão.
Para Deisi
O mundo gira quando
Cada vez que tu despertas
Deus entende
Que é sempre primavera
O teu olhar amanhecido
Pinta o céu
No azul mais profundo
Teu sorriso
Desabrocha as flores
E o teu singelo gesto
De levantar
Põe de volta
O mundo a girar
sábado, 27 de setembro de 2008
Indiferença
Indiferença
Hoje não estou para poemas
Estou para pássaros
Para chuva
Para o sono
Para o bocejo ou
para o sonho
Não me falem em poetas
Não me abram os livros
Não me leiam os versos
Hoje um tomo do Bandeira
Me caiu na cabeça
Poesia não perdoa indiferença
Hoje não estou para poemas
Estou para pássaros
Para chuva
Para o sono
Para o bocejo ou
para o sonho
Não me falem em poetas
Não me abram os livros
Não me leiam os versos
Hoje um tomo do Bandeira
Me caiu na cabeça
Poesia não perdoa indiferença
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Oásis
Para Deisi
Oásis
Teus olhos são oásis
Onde o universo descansa
Enquanto o passado
Se preocupa com
Os vestígios do tempo
Tu acomodas
O mundo em tuas mãos
E nele, sopras as nuvens
Que limpam o céu
E este céu é teu!
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Quando te despes
Para Deisi
Quando te despes
Quando te despes
O mar inteiro se abre
Cada vez que te desfolhas
O vento te sonha
O mar é teu segredo
Na ponta dos teus dedos
Ordenas as ondas que,
Em tua homenagem,
Já nascem sem medos
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Singelezas
Às vezes, a singeleza das crianças me causa espantos. Esses dias, em uma aula com meus alunos da 5º série, solicitei a eles que escrevessem poemas para as pessoas que mais gostavam. Algum tempo depois, um menino me chamou reclamando que não conseguia escrever uma só linha, nada, nenhuma palavrinha. Disse a ele que tentasse qualquer coisa, qualquer palavra. Mas não adiantou. Assim, o período passou e ele ficou segurando o queixo com a palma da mão. No final da aula ele veio falar comigo:
"Sor (professor) como é que a gente aprende a ser poeta?"
Foi uma pergunta, assim, a queima roupa. Como responder? Pensei em dizer que isto não se aprende na escola, que não existem estudos para formar poetas. Mas não disse. Precisava de algo mais simples para dizer. No entanto, ele estava ali, me olhando, pedindo minha opinião:
"Acho que ser poeta é gostar da vida" eu disse
E ele, com um sorriso traquinas, respondeu:
"Então eu já sou poeta, porque eu gosto da vida, principalmente na hora do recreio".
Sobre as lições de um poema
Um poema não dá lições
Um poema acontece
Dele emerge a solidão do mundo
E o amor pelas coisas
O poema nunca estabelece
Um poema provoca, alucina e desarvora
Mas poema é sossego
Deliciosa vertigens dos espantos
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Mundo
Para Bernardo Soares
Mundo
Não há como dizer que não vi o mundo
Eu vi!
No entanto, meus versos perdem a voz
Diante da vastidão
Queria ser como Fernando Pessoa
Que viu tudo que valia a pena ver
E entendeu-as,
e sofreu-as,
e amou-as
com desassossego e desamparo
domingo, 21 de setembro de 2008
Amores difíceis
Ando lendo alguns contos do livro "Amores difíceis", do Ítalo Calvino, uma bela obra, com certeza. Creio que algumas frases deste livro vão passar a morar dentro de mim. Por exemplo no conto "a aventura de um poeta" onde um casal passeia de barco rumo a uma gruta de rara beleza. Usnelli, o poeta, pedia para ir mais devagar pois "desconfiado (por natureza e por educação literária) em relação às emoções e às palavras de que os outros já se apropriaram, acostumado a descobrir mais as belezas escondidas e espúrias do que as óbvias e indiscutíveis(...)"
O que Calvino nos mostra com isso é que beleza pode estar escondida dentro dela mesma, ou seja, os olhos do poeta devem ir além do óbvio, desconfiar das palavras fáceis, dos sentimentos fáceis para, assim, descobrir novas belezas ou permanecer atento quando elas se revelam.
Asas
Poemas são asas
A espera de pássaros
É dolorosa a jornada das aves sem asas
Que, por não conhecerem o céu,
Ainda migalham metáforas pelo chão
O que Calvino nos mostra com isso é que beleza pode estar escondida dentro dela mesma, ou seja, os olhos do poeta devem ir além do óbvio, desconfiar das palavras fáceis, dos sentimentos fáceis para, assim, descobrir novas belezas ou permanecer atento quando elas se revelam.
Asas
Poemas são asas
A espera de pássaros
É dolorosa a jornada das aves sem asas
Que, por não conhecerem o céu,
Ainda migalham metáforas pelo chão
sábado, 20 de setembro de 2008
Antes do mergulho
Antes do mergulho
Antes do mergulho
Pressentir que a sabedoria do mar
É gerada pela noite
No afago com o mistério
Não esquecer
Que a memória dos mares
Cintila nos rastros dos peixes
Aprender que o mar
Não se guarda senão nos olhos
Ou no deserto do amor
Antes do mergulho
Pressentir que a sabedoria do mar
É gerada pela noite
No afago com o mistério
Não esquecer
Que a memória dos mares
Cintila nos rastros dos peixes
Aprender que o mar
Não se guarda senão nos olhos
Ou no deserto do amor
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Repouso
Para Deisi
Repouso
Dorme, querida, dorme
No meu peito repousa teus sonhos
Escolhestes minha ternura como tua morada
Mas ai de mim!
Que sou tão pequeno diante da beleza
Que carregas
Dorme, querida, dorme
Dorme dentro da noite e sonhes
Girassóis ao teu redor
Caminhe em silêncio até um lago
E veja o reflexo que enternece a vida
Depois, ao acordares, não me olhes
Por um tempo não me olhes
Pois ainda estarei desfigurado
Estarrecido, fraco por não entender
Tanta a beleza adormecida
Em meu peito
Repouso
Dorme, querida, dorme
No meu peito repousa teus sonhos
Escolhestes minha ternura como tua morada
Mas ai de mim!
Que sou tão pequeno diante da beleza
Que carregas
Dorme, querida, dorme
Dorme dentro da noite e sonhes
Girassóis ao teu redor
Caminhe em silêncio até um lago
E veja o reflexo que enternece a vida
Depois, ao acordares, não me olhes
Por um tempo não me olhes
Pois ainda estarei desfigurado
Estarrecido, fraco por não entender
Tanta a beleza adormecida
Em meu peito
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
como lidar com leões
hoje lendo uma entrevista da pensadora argentina Beatriz Sarlo, encorajei-me mais um pouco em levar a cabo o projeto deste blog. Beatriz diz que manteve um blog secreto, que só ela acessava, como um diário, disse também que só manteve-o por questões formais, por um comprometimento regular com a escrita. Fiquei pensando que manter a regularidade é o mais difícil, pois regularidade é ultrapassar as dificuldades da vida prática, do cansaço, da preguiça, da dor de cabeça, dos problemas familiares, dos compromissos no trabalho. Sobretudo, escrever poemas, carrega um peso a mais. Poema é dizer o máximo com pouco, às vezes, muito pouco. É, portanto, uma "luta corporal", como diria Ferreira Gullar, uma luta com as palavras, no meu caso uma luta diária.
para Walt whitman
Como lidar com leões
As pessoas têm vindo
Reclamar-me do mundo
Eu as escuto, paciente
Reclamar-me do mundo
Eu as escuto, paciente
Enquanto a mim, nunca reclamo
Eu não me lamento
Porque não sou um poço de lamentações
Também não peço nada a Deus
Eu não me lamento
Porque não sou um poço de lamentações
Também não peço nada a Deus
Nunca peço, só agradeço
Lido com meus fantasmas
Como um domador lida com seus leões
Com os olhos sagazes e firmezas nas mãos
Como um domador lida com seus leões
Com os olhos sagazes e firmezas nas mãos
Leões não me assustam
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Pena
Segue mais poesia:
Pena
Minha sensibilidade é uma pena
Desgarrada de um pássaro selvagem
Flanando no tempo e no espaço
O vôo efêmero da pena é ainda
O que há no fundo das coisas eternas
A pena flana sobre a beleza e sobre a dor
O vento triste orquestra seu caminho
Ao cair, leve, triste e sossegada
Vive, ainda que imóvel,
No calor do vôo e no sentimento do tempo,
A experiência dos que só conhecem o chão.
Pena
Minha sensibilidade é uma pena
Desgarrada de um pássaro selvagem
Flanando no tempo e no espaço
O vôo efêmero da pena é ainda
O que há no fundo das coisas eternas
A pena flana sobre a beleza e sobre a dor
O vento triste orquestra seu caminho
Ao cair, leve, triste e sossegada
Vive, ainda que imóvel,
No calor do vôo e no sentimento do tempo,
A experiência dos que só conhecem o chão.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Depois de uma noite
Creio que, depois de uma noite, me dei conta da dimensão do meu compromisso com este blog: 1 poema por dia, durante seis meses, o que no fim das contas vai dar quase uns 200 poemas. Para tanto, preciso de fôlego, não de inspiração. Não acredito em inspiração, acredito na pré-disposição, no trabalho artesanal da escrita. Na seriedade quanto tecitura poética. Desculpem-me se no caso houver uma falta de rigor nos versos, pois o que me importa talvez não seja o mar, mas o mergulho.
Portanto, aí vai mais um:
Para Deisi
TardeLonga é a tarde na ausência do teu rosto
Cedo é a noite, quando entre cheiros,
Me perco no labirinto
Do teu corpo
domingo, 14 de setembro de 2008
sobre o blog
Há algum tempo que tenho pensado em manter uma rotina quanto a escrita, visto que sou um baita preguiçoso pra isso, bom este blog é pra isso: me comprometi a escrever todos dias, ou melhor, escrever um poema por dia durante seis meses. É um plano quixotesco, eu sei, mas sigo as palavras de Osman Lins que diz "Em literatura, é inadmissível planos modestos". É quixotesco porque escrever um poema por dia exige uma certa seriedade com a escrita (coisa que pretento aprender a ter), o que vai me obrigar a manter um olhar mais atento diante das coisas e olhar a vida mais honestamente.
Bom, quanto ao título do Blog... é o título de um conto meu chamado "A beleza e a tristeza" que foi destaque do concurso Palcohabitasul em 2006, depois foi adaptado para o teatro pela Debora Finocchiaro e encenado pela Fernada Carvalho Leite em 2007, lá no Teatro São Pedro em 2007 e 2008.
Bom, quanto ao título do Blog... é o título de um conto meu chamado "A beleza e a tristeza" que foi destaque do concurso Palcohabitasul em 2006, depois foi adaptado para o teatro pela Debora Finocchiaro e encenado pela Fernada Carvalho Leite em 2007, lá no Teatro São Pedro em 2007 e 2008.
Aqui vai o endereço de um trecho da peça "Beatriz - a beleza e a tristeza"
http://br.youtube.com/watch?v=41Pk7AR31uI
http://br.youtube.com/watch?v=41Pk7AR31uI
E aqui vai mais um poema:
A pátria das palavras
A poesia é a minha pátria
Na qual minha alma cresce
Hoje um poema me salvou
Porque me deu um universo onde morar
Um poema é isso:
Um lugar para existir
Uma casa e um quintal com girassóis
Meu corpo é a pátria dos meus versos
Às vezes cultivo palavras
Noutras, nasço universos
sábado, 13 de setembro de 2008
Só pra começar...
Mergulho em mar aberto
Meus pensamentos são sonhos
Que se desfolham em palavras
Depois de seladas na língua
Sonhos são poemas atravessando a lucidez
Agora, meus pensamentos
São pétalas vermelhas jogadas ao vento
É no mar que elas repousam
Meu pensamento vaga na imensidão do incerto
Meu pensamento é um mergulho
Em mar aberto
Meus pensamentos são sonhos
Que se desfolham em palavras
Depois de seladas na língua
Sonhos são poemas atravessando a lucidez
Agora, meus pensamentos
São pétalas vermelhas jogadas ao vento
É no mar que elas repousam
Meu pensamento vaga na imensidão do incerto
Meu pensamento é um mergulho
Em mar aberto
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