terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fôlego

Os limites do mar
Recuperam meu fôlego

Um poema acontece nas águas
Quando uma palavra me encanta
Ou quando num mergulho imprevisto
Me vejo indo ao encontro
De peixes e acasos

Redemoinhos vem para me proteger
Enquanto o sal sacia meu coração

O chão do mar sou eu mesmo
E eu mesmo posso ser o céu de minha alma

domingo, 28 de dezembro de 2008

100!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Muito bem, este é o centésimo poema!
Há 3 meses quando me propus a escrever 1 poema por dia durante 6 meses, achei que estava exagerando, ou que não poderia dar conta, já que um poema não se faz assim de uma hora para outra. No entanto, aí estão 100 poemas, claro que tenho noção de que apenas uma meia duzia carregam alguma qualidade poética, não digo isso por falsa modéstia, nem para arracar elogios, mas por honestidade e seriedade que cabe a alguem que pretende algo em literatura.
Muitos vieram me perguntar se eu já tinha poemas prontos. Na verdade, quando comecei eu tinha 20 poemas prontos e muitos pensamentos e frases soltas em meu caderninho de anotações. Bem, o fato é que esses 20 poemas acabaram, e então tive que prestar mais atenção em minhas antigas anotações e reelaborá-las, e invetar outras num ritmo mais acelerado e frequente. Houve dias em que um certo desespero me invadia porque eu só tinha rascunhos, mas o poema tinha que ser publicado e muitos vezes fui dormir quase de manhã para terminar um poema de 5 ou 6 versos.
Agradeço a todos aqueles que tem acompanhado meu esforço em manter este blog vivo, especialmente a Deisi Delagado, Cesar dias, Jorge Froes e sandra Tenorio.
obrigado!
C(s)em poemas
Hoje estou cansado
Como quem tocou o teto do céu
Ou porque ficou assombrado
com a fugacidade das nuvens
Estou cansado pelo meu corpo
ser o combustível
de minha própria poesia
Meus olhos estão cansados também
Pois a beleza e a tristeza
são coisas que pesam
nos espaços vazios do coração
Mas só um poema me põe
de volta na roda viva
Me revigora
E já passo a ser
Outro
dentro de mim mesmo
Por todos os dias
Por toda a vida

sábado, 27 de dezembro de 2008

O livro dos peixes

Onde os peixes secam suas lágrimas?

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O tigre e o mundo

“Dentro de mim vive um tigre. E o difícil é manter esse tigre sob controle”
Pedro Juan Gutierres


Dentro de mim vive um tigre
E as jaulas de minha alma estão abertas
O tigre é lento e sorrateiro

Nos olhos dele se guarda a sabedoria
Do instinto

As jaulas estão abertas
E o mundo está a sua espera

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Atenção:

O mundo parou

Os carros das cidades
Uniram-se num enorme engarrafamento
Pássaros suspenderam seus vôos em pleno ar
As plantas pararam de crescer
E todas as maquinas do mundo silenciaram

A morte deixou de matar
E a vida deixou de viver
Nuvens permanecem altas e claras
As águas dos rios estagnaram pelas margens

Sim, o mundo parou ao meu redor

Mas aqui
Dentro de mim
Há outro mundo funcionando
Pulsando a vida

E as coisas dentro meu mundo
Jamais pararam de acontecer

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Cristo

Hoje é natal
No entanto, mais importante
Que acreditar em cristo
É saber se Cristo
Ainda acredita em nós

Saber se a humanidade
Ainda germina nos olhos dos homens
Ou se ainda somos capazes de abraços honestos
Ou de uma palavra doce ao ouvido

Se Cristo acredita em nós
E se ainda não desistiu dos homens atrozes
Os mesmos que reduziram a grandeza humana
Nos gestos mais mesquinhos

Então eu acredito em cristo
Então eu acredito que há algo tão sagrado
Capaz perdoar o egoísmo humano

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Todas as partes do dia

para Fernando Pessoa


Eu sou do tamanho dos meus sonhos

Minha alma é da altura do que penso

Porém, meus pensamentos
Não são mais do que dois pássaros
Surgindo no horizonte
Voando na direção dos teus olhos claros

Meus pensamentos voam à noite
Pois as manhãs não são mais importantes
Que a noite
Nem a noite é mais importante que as manhãs

Todas as partes do dia têm sua importância
Todas as partes do dia têm sua verdade
Todas as partes do dia temos que existir

Tenho em cada dia uma infinidade
Do que posso ser
Mas creio que vou sendo na mediada em
Que invento o trajeto de meus pássaros

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sentimento de mar

Preciso do horizonte encostado no mar
Onde eu possa mergulhar
Até quase me afogar em tua languidez

Preciso perder-me num tempo
Dentro das águas
Encontrar um certo sentimento de mar

Ou um certo sentimento de ar

Qualquer lugar de onde
Eu possa emergir
Até a superfície de tua respiração

domingo, 21 de dezembro de 2008

Pedra

Pedra arremessada na lagoa

Durante o vôo
Ela conhece os segredos da movência

Estuda a história dos relâmpagos
E os afagos do vento

Pedra arremessada aprende
Que voar é desprender-se do arremesso

Mas toda pedra cai pelo do peso de viver

Pois não se regressa um voo acontecido

sábado, 20 de dezembro de 2008

Desamparo

Estou a olhar para mar
E o desamparo é inevitável
Diante de águas infinitas

A espuma é uma intuição fugaz

No movimento de cada onda
Minha infância se apruma e respira

Há homens que sabem olhar para um oceano

Eu não, só sei sentir

Enquanto isso,
Apenas planejo um mergulho

Simples, sossegado e profundo

Até que minha memória arqueje
Aos pés da criança que fui

O mar nasce é nos olhos da infância

Meu desamparo é uma ilha
Nascendo no mar

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Perfumes

Tenho sonhado perfumes

E os aromas são tão nítdos
como os girassóis de Van Gogh

Um perfume tece a madrugada

Me elevo até o nascimento de uma orquídea

Flores milagram aromas
para salvar meus sonhos

Os meus e os das nuvens
que pretendem cheiros doces e finitos

A fugacidade do perfume
Me completa e me conforta

Porque dormem na memória

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Domadora de raios

Domadora de raios


Sou prisioneiro dos teus pensamentos

Com uma pedra ao acaso
Risca o meu destino

És a domadora dos raios
E das tempestades em mar aberto

Quando te vestes de luz
Minha travessia é um cometa desgarrado

Tombo num mar alto

Sou um naufrago dentro dos teus gestos

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mundos

Mundos

Observo a rua pela janela de um bar
Pessoas caminham no seu ritmo
Cada uma carregando um mundo nos olhos

Algumas parecem em paz
Como se conhecessem o mistério da vida e da morte
Outras parecem doer à caminhada chorando pelo avesso

Só então percebo:
Há tantos universos a conhecer
Há tantas pessoas imersas em si mesmas

Mas Deus é tão cruel

Pois muitos anos vão passar
E mesmo assim
Sei que morrerei sem conhecer
Todas essas pessoas e os seus mundos

A vida é um relâmpago
Iluminando mundos e universos

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Segunda e terça

Começo

Meus olhos têm começo
E eles começam no teu corpo

Um passeio pela tua pele
É um sonho sendo construído

Teus olhos estão ungidos
Pelos relâmpagos e pela claridade

O mar contém suas ondas
Diante de tuas pupilas

E os corações dos peixes palpitam
Sob a ordem de tuas pálpebras

E um novo mundo começa
Cada vez que os teus olhos se movem
Na direção do infinito





Morrer o tempo

É preciso morrer o tempo
Num beijo profundo
Uma onda me leva
Para conhecer a vida até o fundo
E de lá
Volto à tona para o mundo
E a superfície é um manto
Escondendo a história do oceano
Depois retorno ao mar
Para morrer o tempo
Num mergulho difícil e sincero

domingo, 14 de dezembro de 2008

Salvo

Salvo


Não escrevo poemas
Para me ajudar

Poemas nunca me ajudaram
Em nada

Um poema nunca me deu um auxílio

A poesia não serve para isso

Um poema não pode ajudar ninguém

Mas um poema pode nos salvar
Todos os dias

Porque há um abismo entre ajudar e salvar

Ser salvo é abandonar-se nas mãos de Deus

Hoje me abandonei novamente nas mãos da poesia

Mas não escrevo apenas para ser salvo

Escrevo também para equilibrar o sol no horizonte

Escrevo para dilatar minhas pupilas

E reconhecer a realidade de um sonho

sábado, 13 de dezembro de 2008

Uma temporada no deserto

Uma temporada no deserto


O deserto é um pássaro com sede
E o meu corpo é uma fonte secando

Um homem só conhece a solidão
Depois de caminhar pelo deserto

Cada grão de areia
É uma palavra que o mundo deixou de dizer

A movência das dunas
É o discurso do tempo

E uma tempestade no deserto
É o destino mudando de lugar

Mas um destino não nos permite
Andar a esmo
Porque temos um compromisso com ele

A vida escolheu o deserto para
Secar a tristeza

O deserto é o nada que é tudo

Meu deserto é em todo lugar
Nos olhos exuberantes da noite
E também dentro de mim

Um homem só encontra um caminho
Quando aprende a trajetória do sol

Um homem só ama um deserto
Quando pode deixa-lo
Ou viver dentro dele






Alguma coisa

Esta noite alguma coisa
De Mozart e Bethoven
Ficou em mim

Algo grave

Talvez uma nota profunda retirada
De uma noite profunda
Tocada por um Chopin
Embriagado de chope

Alguma coisa de Vivaldi ou Verdi
Ficou espalhada
Nesta noite viva e lancinante

Alguma coisa de whisky
Permanece em minha boca
Ao sabor de Stravinsky

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Olhares

Olhares

Teus olhos marejam o rumo das águas
Dentro deles planejas a direção das marés
E o destino dos peixes

Gosto do modo como tu descansas
O teu olhar sobre as coisas

Teus olhos explicam o amor

E tua serenidade abraça
Minhas inquietudes

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Fogo brando

para Frederic Chopin

Fogo brando

A vida é um lampejo

Labaredas dançam no escuro
E vão descobrindo a geografia da noite

Brasas cansadas
Ainda sustentam
Um rumor de vida
Na ponta de uma fogueira

Ouve-se um piano ao longe
Pairando melodias sobre um fogo brando
Calado e profundo

Há pelas ruas um fogo triste
Como se Chopin tocasse
Em todas as casas noturnos infinitos

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Neblina em Porto Alegre

Neblina em Porto Alegre

A noite cai sobre porto alegre
Há uma breve neblina
Adormecida nos morros e nos quintais da minha alma
A madrugada começa a viver dentro mim
Tão plena como as paragens celestes
Guardadas no fundo das estrelas

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Sobre ventos e flores

Sobre ventos e flores

O silêncio migra para outro silêncio
Enquanto uma flor vence um furacão
Vence, porque suas raízes já haviam
Aprendido a amar a terra

E toda a raiz sabe a vida até o fundo

Porém, cada silêncio é uma palavra condenada

As flores não conhecem o tempo
Por isso resistem com sua beleza
Aos ventos fortes e mordazes

Sim, querido Drummond, outra flor nasceu na rua

Uma flor difícil
Compreendida apenas pelos pássaros
Ou por uma brisa à beira mar

domingo, 7 de dezembro de 2008

Bondade

Bondade

Há dias em que acordo
Com uma estranha ternura
Pelas pessoas
Uma ternura tão ingênua
Que passo a crer em todas elas
Como se todas fossem capazes
De gestos benevolentes e doces

Como se todas fossem capazes
De amar um oceano inteiro
Mesmo sem compreendê-lo

Há dias em que vida é tão vasta
Que todos os medos se perdem pelos bosques
E um caminho feito de terra e céus
São inventados por pessoas bondosas

E há os dias como estes
Em que um céu estrelado
Guarda meu sono
Enquanto a bondade do mundo
Trabalha meu destino

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sexta e sábado

Forasteiro

Estou vindo de um lugar que não há mais
Um lugar onde as mulheres
Eram vestidas de sol
E os homens fechavam os olhos
Para senti-las passar

De onde eu venho não há solidão
E o tempo é algo tão longínquo
Quanto qualquer instante
Desenhado no horizonte

De onde eu venho
Cada lágrima tecida
Comove todos os homens e todas as mulheres
E os velhos por um momento
Deixam suas memórias
Para reconhecer um pouco mais de tristeza




Alma

O poema é a morada
Das minhas angustias
A história da minha poesia
Está submersa nas almas
De todos os homens
E de todas as mulheres

Meus poemas são memórias

E a memória está sempre ameaçada pelo tempo

No entanto, a memória se defende
Inventando passados

Imaginando vestígios
Driblando verdades

Mas a verdade só é
O caminho que vou imaginando

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ernesto Sabato

Ernesto Sabato

Terminei de ler o livro “a resistência” de Ernesto Sabato e saí com a sensação que a melhor forma de viver é resistir. Mais do que um velhinho dando lições de moral, Sabato com seus 90 anos se mostra lúcido e vigoroso ao resistir com palavras à tempos sombrios como o que vivemos. Sabato resgata valores, a experiência, a sabedoria e o amor pela vida. Desde o seu livro “Sobre heróis e tumbas” que Sabato não me comovia. Peço que prestem atenção neste trecho de “A resistência”:

“Esqueci grandes trechos da vida e, em compensação, ainda palpitam em minhas mãos os encontros, os momentos de perigo e o nome daqueles que me resgataram das depressões e amarguras. Também o de vocês que acreditam em mim, que leram meus livros e me ajudarão a morrer”

Aproveito este trecho para agradecer as poucas pessoas que têm lido e acompanhado meus poemas, parafraseando Sabato:

“Ainda palpitam nos meus olhos os encontros, os momentos difíceis, o nome daqueles que abriram a porta do quarto, acenderam a luz e me resgataram das amarguras. E também o de vocês que acreditam em mim, que leram meus poemas e me ajudarão a viver”

Obrigado!



Solidões


Cada pessoa carrega
Uma solidão diferente

Existe a solidão necessária
Aquela que nos faz
Uma Espécie de ilha
E assim tateamos nossos limites
Até sabermos
Onde a terra finda e o mar rebenta

Mas há a solidão de doer
Aquela que dói nos ossos
E desta que estou a falar
Do peso da ausência
Que as pessoas carregam nos ombros
E nos olhos
Quando caminham caladas e remotas

Curo minhas ausências
Prestando atenção
Na solidão dos outros
E na minha também

Só Deus tem direito a solidão

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Procura

Procura

O que procuramos
Não está no tempo
Nem nos aços dos espelhos

O que procuramos está sendo construído
Está sendo imaginado por uma
Força bruta e delicada
Às margens de um rio

Mas o tempo não é nosso
É das palavras e das coisas

A metáfora me conhece antes de mim

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Chuva fria

Chuva fria

Hoje uma chuva fria
Me fez prestar mais atenção
Nos gestos dos outros
E também no modo como as pessoas
Se protegem dos pingos

Dos ventos

Elas encolhem os ombros
Fecham os olhos
Como se buscassem abrigo
Dentro de si mesmas

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sustento

Sustento

Evocar a poesia é um pacto com a solidão

A presença difícil de um poema
Me conforta

Ou me torna impossível

Mas um poema é tão vasto
Que pode caber
Dentro de um coração partido

Porém, mantenhamos calma

O universo está por um fio
Mas o céu pode ainda sustentá-lo

domingo, 30 de novembro de 2008

Velha arvore madura

Então tá, né? Aí vão mais dois poemas para compensar os dois dias sem poemas.

Velha arvore madura

Tenho um sonho herdado
Das árvores
São elas que me fazem
Entrar em contato
Com a permanência

Porque a raiz é a filha
Do séculos

A terra sabe disso
Por isso nasce as árvores

Cada folha que cai
Envelhece as arvores
Cada vento que passa
Torna as arvores mais maduras

E arvores maduras
Entendem os frutos da terra
Assim como Gide as entende



Noturno

Meus olhos mergulham noite adentro
Depois emergem do profundo
Como pássaros na sombra
Ouço cantos
Eles anunciam a lucidez do dia
E enquanto adormeço serenamente
A claridade vai imaginando o amanhecer

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Luta

Luta

Meu coração luta como uma prece

Um abandono ao longe
É ainda o que perdura

Um aceno me faz existir

A ausência me faz companhia

Meu coração luta como um raio
Penetra a terra

E terra é a dos que sabem caminhar nela

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Iberêpoema

Iberêpoema

Há um silêncio triste
Nas cores que tangem
Teus gestos duros e sinceros

Nos quadros, olhos imensos
Acolhem a angustia das tintas imprecisas

Teu tempo é cinza
Que fazem chorar
Dias pesados

Tua angústia caminha nas minhas retinas
Como uma eternidade repousada

Tua pintura me transborda
Mas me educa

Sinto cada traço
Sinto cada esforço

Iberê
O infinito te reconhece

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A angústia de um poema

A angústia de um poema

O poema é a morada
De minhas angústias
As histórias de meus poemas
Estão submersas
Nas almas dos homens e das mulheres
Minha palavra descreve a trajetória do abismo
Ou a altura do céu

A alma reflete o tempo

Só as almas têm história

Carregam consigo um livro sagrado
Aonde as histórias vão nascendo

Mas o corpo é tão breve

terça-feira, 25 de novembro de 2008

+ 2 POemaS



Quero ter a fé das crianças
Acreditar em Deus
Como as crianças acreditam

Mas acreditar com uma certa angústia

A angústia dos que amam

E a dos que sabem partir

Como Deus que sempre soube
Se deixar pelo caminho

Assim como as pegadas
Que o vento deixa na terra


Despertar

Nuvens mal despertas
Se apóiam no horizonte
Dos meus olhos

Um Breve raio de sol
Sustenta meu caminho

Neste instante
Uma clarividência me dói nos ossos

As nuvens preguiçosas
Dormem o céu

E pássaros voam sóis

domingo, 23 de novembro de 2008

Convite

Convite

A noite é sempre uma jornada

Venha, olha comigo o entardecer
E acompanha a sombra
Acordando na cidade

É o sonho que cria a noite

Anda comigo
No equilíbrio do meio fio

Mas a noite também dorme
No leito do universo

Só o que não é sonhado
É irrreversível

A noite também dorme
E de dia é preciso imaginá-la

sábado, 22 de novembro de 2008

Persistência

Como um amigo meu diz a GVT andou se "bobeando" comigo, por isso mas atrasos no blog. Mas eu resisto. Como um sentinela. Poesia é persistência. Portanto aí vai o de ontem e o de hoje:


Verso simples

Quero desnudar o amor
Num verso simples

Ver o corpo dos sentimentos difíceis

Ou estranhar a razão pelo o espelho
Calcinando o semblante da noite




Infância

Os homens preparam a infância
Inventando seus passados

Viver é memoriar

Sonhando as brincadeiras
Num pé de arvore mal formado
Ou numa roseta em pés descalços

A infância dos homens
É mormaço de bola
É um gol na gaiola

Aberta

Mirando um vôo
No olho do bodoque

É grito de mãe
Ao longe

Farofa na mesa
E beijo de tia

Infância sonhada
É um almoço inacabado

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Problemas técnicos

olá pessoal

Bom, para quem anda acompanhando este blog, deve ter percebido que deixei de colocar poemas por três dias. Tive uns problemas técnicos, mas está tudo sob controle. No entanto, para não perder o embalo nem a aposta aí vão 3 poemas quentinhos:

À caminho do deserto

Para escrever um poema
Preciso de duas coisas:
Disciplina e solidão

Aos poucos vou descobrindo
Um deserto nas mãos

Um poema seca
Enquanto grãos de areia
Envolvem minhas pálpebras

Amar um deserto
É fácil
Ou Impossível

Escrever é doar-se
A si e aos outros

Por isso escrevo poemas para continuar lúcido

Escrevo poemas para salvar minha alma



Olhos tristes

Como são frágeis
Estes teus olhos nulos
E mesmo assim
Ainda sustentas um céu inteiro

Teu modo de olhar para as coisas
Me comove

Porque são sempre nos olhos
Que as pessoas são mais tristes

Ou mais felizes

Às vezes tu olhas para mim
Como quem perde um mar
Mas um mar não se perde

Ou se mergulha
Ou caminha-se nele



Um poema por dia:

Tigre saltando das folhagens

Flores partidas

Espinho sonhado

Noite veloz

Cansaço de pedra

Alegria montada num leão

Palavra maltratada

Improviso existencial

Disciplina

Palavra espicaçada

Verso apressado

Assunto manjado

Poema sem assunto

Palavra sacudida no escuro

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sândalo

Sândalo

Esquecer um sonho
É a tarefa do amanhecer
Mas lembrá-lo
Como um cheiro de sândalo esmaecido
É uma questão de sobrevivência

domingo, 16 de novembro de 2008

Barcos

Barcos

Barcos entediados
Ancorados na solidão
Eles não sabem que o céu
É navegável?

sábado, 15 de novembro de 2008

Porto Alegre

Porto Alegre

Hoje a paisagem acordou molhada
Um cheiro úmido
Cobre os telhados
Um sol preguiçoso me olha
Pelas frestas das nuvens
Há em mim uma vontade
De ganhar esta cidade
Às vezes, Porto Alegre
Me cabe nos olhos
A solidão de uma poça lamacenta
Não espanta os pássaros
Da praça da Alfândega
Drummond e Quintana
Poetam pedras, ferros e ruas
As nuvens vencem o sol
O dia, hoje, não é meu
Nunca foi
Hoje o dia será dos que sabem chorar
Dos que sabem partir
Dos que sabem ser tristes
A mim só me caberá
Secar as poças da alma
Junto com o sol combalido
Poças são buracos
Que meus sapatos conhecem bem
Um passeio na rua da praia
Me acalma
E um cansaço de chuva
Faz esta cidade sentir
Um sol obliquo
Como se cada raio fosse
Um poema mandado por Deus
Um certo calor
Agrada o paladar da pele
Mas hoje o dia não é meu
Nunca foi
Hoje o dia será dos que sabem doer
Dos que sabem amar
Dos que sabem morrer

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Isaura


Para Ondjaki e Luís Bernardo Honwana
Isaura
Isaura,
Pousa também teus olhos
Nas chagas do mundo
Depois concede teu abraço triste
No azul opaco e profundo
Que paira nos olhos desta vida
Empresta tua singeleza
E enlaça novamente
Um cão tinhoso
Coteja uma lágrima
Nesta terra fria
E ressuscita um cão sonhoso

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sonho

Sonho

"Como podemos amar os outros?"

Assim resvala uma pergunta nítida
como uma chuva fria
Em uma pele quente

A pergunta vem dentro de um
Som exato que transpassa
os ouvidos da noite
Acompanhada de uma lâmina
afiada por Deus

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Caminho

Caminho

Caminho entre a calçada
E o meio fio
Versos atrás de mim
Me acompanham
Mas nenhum deles
Me ultrapassa
E se revela para mim
Então tenho de olhar para trás
Mas olhar para trás
É descuidar do caminho

Tropeçar numa pedra
Pode apagar uma intuição
Porém me faz levantar mais lúcido do chão

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Prece

Prece

Senhor, ergui minha vida
Nos passos da honra

Meus passos foram celestes e serenos
Como uma carreira de formigas
Debrucei-me sobre as paragens da incerteza
E nunca, em momento algum,
Levantei um asco contra o céu

Mas agora, Senhor,
Vai morrendo em mim, à mingua,
Um pedaço do mundo
Cansei-me dos caminhos dignos
E da fome saciada pelos bons

Senhor, aponta-me
Os subúrbios da alma
Onde eu possa aprender
Os gestos dos intrusos
E a arrogância dos sensatos

Quero o amor das pedras

Quero o martírio da paciência
Numa fogueira desolada

Quero ser o juiz como Xangô

Quero inquirir a existência com a altivez
De uma espada empunhada
Pelo povo da noite

Perdoa- me, Senhor, pelos gestos
Atrozes que deixei de cometer
Dê-me uma existência nova
E permita que eu sente ao lado dos trapaceiros
Os mesmos que enganaram a morte

Permita, Senhor, que um som partido
Me conduza pelos terreiros da vidência
E que eu seja pronunciado ao amanhecer
Apenas com as trombetas do silêncio

Mostra-me, Senhor, a outra face do mundo
A que perjura
A que difama

Pela língua dos que mentem
Nascerão orquídeas esfaceladas
Onde uma chuva bondosa
Regará a velhice de suas pétalas

Senhor, ata-me ao início das águas
E conta-me o que há em cada lágrima de Oxum

Abre meus caminhos

Numa relva não há trilhas

Entre a encruzilhada
E o terreiro
Se mede a idade do tempo

A ilha, como dissestes, é o homem
Atormentado pelo galope de viver

Senhor, abandona-me a madruga
Num sonho de Morfeu

Escuta-me um instante

Orfeu negro me acompanha nesta prece

Senhor, leva-me pelos bosques
E deixa-me ouvir a razão dos injustos

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Diferenças

Diferenças

Todo o silêncio é diferente

O silêncio da pedra é permanência
O silêncio do mar é ilusão
O silêncio de Deus é a sua obra

Às vezes, o silêncio
Sangra as vozes estilhaçadas

Um grito assassinado
Dorme nos lábios mordidos

Só os dentes sabem ranger o silêncio

Todo o silêncio é veloz
Como o lampejo de uma chama

domingo, 9 de novembro de 2008

Vento encilhado

Vento encilhado

Encilhar o vento
E cavalgar nele as eras
E também as idades que não se contam

Domar o vento é uma forma de existir

Dentro dele ou fora dele
O mundo ainda gira
Conforme a bondade do tempo

Num vento pode-se cavalgar a velhice de um ponteiro

Que tempo também envelhece
Agindo nas palavras

sábado, 8 de novembro de 2008

Trajeto

Trajeto

Meu arcabouço de palavras
Se abre quando a claridade
Se movimenta

A nitidez da névoa
Exerce uma vidência
No destino em que piso

Como o mar
Que já sabe o trajeto da praia

Meu destino é a metáfora

Meu trajeto são palavras ao longe
Que retumbam num coração selvagem

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Barco à deriva

Barco à deriva

Minha poesia é um barco à deriva
Abandonado pelo tempo
E abraçada pelo mar

Sou um naufrago
Aplacado pelo cantos das sereias

As ondas quebradas
Passaram a ser a minha morada

A noite me guarda
Entre seus dedos

"Netuno, conta-me
Um segredo?"

"Onde mar foi inventado?"

"Em que lugar do oceano não se encontra o medo?"

"O que sonham os peixes?"

Minha poesia é um barco à deriva
Como a solidão aberta em águas

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ao começo

Ao começo

Para chegar ao começo
Preciso nutrir meus olhos
Com a força arcaica das pedras

E assim desgirar o mundo
Até as profundezas da criação

Depois, desterrar a larva das montanhas
E pisar na terra mais antiga que o chão

Doer os ossos do princípio

É preciso ter coragem para voejar o começo
A arqueologia do mundo
É um alma tombada pelo tempo

Volto ao início
Com uma palavra renascida

Regressar é a minha condição

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Diante de ti

Para Deisi
Diante de ti

Diante de ti a tristeza emudece
Amarguras naufragam
Beija-flores provocam revoluções e metáforas
Nos jardins

Sete lágrimas de felicidade
Te recebem

Asas do teu sorriso
Secam o rosto do tempo
Semeiam auroras

Lavram o infinito

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sonata ao luar

Sonata ao luar

A vida é um assombro
Dos meus espantos nascem pássaros

E pássaros são sempre eternos
Como uma sonata ao luar

Toda vez que um pássaro voa
Um tempo novo atravessa as idades

Restabelecendo sobre o mar
Um breve rumor de eternidades

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Último reduto

Último reduto

Tenho uma rotina nos olhos:
Vasculhar beleza pelos cantos

O céu para mim é um segredo revelado

Lucidez é ouvir um trovão

Deus é uma coragem minha
Que ainda não sei bem

Meu desafio é ser um santo sem Ele
Tornar-me sagrado nesta terra

E o sagrado está na sua ausência

A poesia é meu último reduto
A última forma divina

domingo, 2 de novembro de 2008

Caverna

Caverna

Quando escrevo uma tristeza
É porque meus sentidos vão bem

Poemas não sofrem
Quem sofre são os homens
E os seus delírios

Uma dor não pode ser publicada

Quando escrevo uma tristeza
Tateio Platão

Vou tateando a caverna
Até esbarrar numa palavra

Depois saio a cata
De um isqueiro e de uma vela
Que me ilumine paredes e versos

sábado, 1 de novembro de 2008

Palavra definitiva

Palavra definitiva

Minha palavra é definitiva
Somente neste instante

Amanhã serei outro

E serei o mesmo também

A palavra é raiz movente

Meu regresso começa na partida

Só vejo quando não olho

Olhar é ilusão

Sentir é um modo de estar vivo

Toda a palavra é definitiva
Quando reconhece o instante

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Rumor da Poesia

Rumor da Poesia

O rumor da poesia
Entende o universo
E compreende que a palavra
É um milagre de Deus

A criação de um poema
Caminha na rua

Comigo.

A luz da manhã
Me diz que
As palavras, às vezes, são
As ruínas do tempo

Aprendo que a palavra é inesgotável
Quando dorme ao sol

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Poço

Poço

Hoje sinto-me capaz
De dizer tudo

Sinto-me capaz de cantar a dor dos que caem
No poço
No poço dentro do poço

Cantar aqueles que amam além da conta
E se contentam com migalhas de carícias

Hoje sou capaz de cantar
A partida e o regresso
A incompreensão e a delicadeza

Sinto-me tão capaz
Que posso ainda acordar o sono

Abrir o dia
E deitá-lo nos braços da noite

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

À caminho

À caminho

Passado são migalhas
O futuro é um sigilo

E me contento com isso!

O tempo me resigna

Mas cair é um fato
Voar é uma escolha

Só o presente é voável

Heidegger me observa:

Vou sendo

Sou um poeta à caminho

Meu destino é a intuição
Como um tigre acuado

O passado é uma nesga

O futuro:
Des
ca
minho.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Poema triste

Poema triste

Estou sentado na orla da praia
A tormenta ainda não desabou

O céu retém as nuvens pesadas
Como se estivesse retendo
No peito mágoas amalgamadas

A areia seca conforta meus pés
O mar tange a minha dor
Com seus movimentos bruscos e oblíquos

Um vento lapida meu olhar

Minha tristeza é justa
Como estas nuvens cinzas que pesam sobre o mar

O oceano me protege
Lá no silêncio do horizonte

Toda a tempestade
São as dores que o mar ecoa.

Uma chuva fina
Cobre os meus gestos

Nuvens começam
O regresso

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Elogio ao instante

Elogio ao instante

O instante desaba sobre meus ombros
E sinto uma vontade chorar

Tenho nos olhos resquícios de tristeza

Vazios preenchem meu corpo
Como lírios transparentes

O tempo já sabe as borboletas
Por isso as torna infinitas
Em duas semanas

O tempo sabe ausência do amor

Os homens nascem para a eternidade
E só deixam de ser eternos
Quando deixam de amar

Sinto uma dor
Ao saber que o instante
Nos dias de hoje,
É sempre passado

Mas toda a existência é um instante

Em tempos como estes
Em que o instante não existe
Em que a rapidez
É o que persiste

Resistir é que nos resta.

Resistir é amar.

domingo, 26 de outubro de 2008

Criação

Criação

Aquilo que a imaginação secreta
Me serve de espelhos

Imaginar é mais importante que conhecer

Imaginar é o tempo pelo avesso

A criação não sabe voar para fora
Porque voa para dentro de nós

Beija-flores me exercem

Toda vez que imagino
Um sonho é adivinhado

A criação inventa
A poesia realiza

Criar é ter coragem

Uma chuva sonhada
È o pesadelo do deserto

Existo. Imaginando.

A criação não tem idade
Não envelhece

Como os sonhos

sábado, 25 de outubro de 2008

Ela

Para Deisi
Ela

Às vezes elas me vem
Como uma borboleta
Soletro o seu nome
Como se fossem flores

De dia
Seca os cabelos ao sol

À noite
Inventa palavras pela lua

Corrige minha intuição
Com um sopro de bondade

"A vida é um sonho", ela sussurra

Mais tarde...
Ela veste a madrugada
Com seu corpo de estrelas

Seus olhos choram orvalhos
Abençoando begônias e violetas

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A poesia provocada

A poesia provocada

A poesia é a aparição da linguagem
Dentro dela residem palavras
Modeladas pelo tempo

A poesia conhece abismos
A palavra exerce o salto

Mas sejamos práticos:
O destino da palavra é nomear
E o que nomeia revela

O mundo se desvenda, palavrando.

Tudo é linguagem
E para mim é o que basta!

A palavra não filosofa
Age sobre vida

Quem filosofa são os homens

Vamos, sejamos pragmáticos!
O destino da palavra é substantivar
A existência

A palavra tatua na língua
A linguagem dos ventos

E o vento precisa ser compreendido
Para equilibrar o vôo dos poemas

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Um poema

Um poema

Um poema não sabe toda vida
Mas sabe algo sobre ela

Pode um poema medir
A eternidade

E a eternidade cabe é na infância de Deus

Um poema convida para
O mistério

E revela a perplexidade
Das coisas findas

Uma poema não diz a verdade
Pressente

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Poema da saudade

Para Deisi

Poema da saudade

Hoje acordei
Com dois poemas
Nos olhos:

Um se partiu ao sol
O outro, consolou-me
A tua ausência

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Longa jornada noite adentro

Para Walt Whitman (parte II)

Longa jornada noite adentro

Muito bem!
Chegou a hora
De esclarecer algumas coisas
Ouçam todos:
Esta noite meus versos irão revelar
A substância que age no mistério
Esta é a noite em que a lucidez cairá sobre todos
Como estrelas cadentes
Despencando do céu em chamas
Esta noite escreverei os versos mais sinceros
Com uma sinceridade que abrange os anjos
Sentem-se, por favor
É que um mistério
Demora para ser contado
A lucidez é a ausência
Do sonho
Só se vive imaginando
Agora estes versos me imaginam
E também vocês vão sendo imaginados
Esta noite vou tentar eliminar minhas contradições
Serei reto como um poema em linha reta
Tentarei ser claro, mesmo sonhando a escuridão
Deixarei de acreditar em Deus
Porque Deus é ausência
Mas Deus é meu herói
(Permitam-me mais esta contradição)
Às vezes, a contradição é a única forma
De se defender contra verdade
Esperem um pouco
Vou abrir as janelas
E ver o mundo por dentro e por fora
Ouvir os sinos da igreja
Lamentando o fim do dia
De agora em diante
A madrugada será minha metáfora
E a de vocês também
Neste instante a ausência de Deus
Nos protege
A madrugada é um segredo
A performance da noite é pelo sonho
Mas esta noite só desejo o simples
Escrevo para os corações selvagens e domados
Quando as coisas são simples
Escuta-se o som das estrelas
Um segredo só pode ser contado à noite
A manhã é lúcida demais para ouvir um mistério
Agora...
Permitam-me que eu descanse
Os sonhos e as palavras
Levantem-se todos
Já é hora de acordar
E se decidirem ir embora
Por favor, apaguem a luz
Mas não fechem a porta

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Palavra

Palavra

Cada palavra é uma história
Há em cada uma delas uma vontade
De ser livre

Toda palavra tem sua verdade

Mas só desejo a palavra sonhada
Aquela que revela o segredo das mariposas

Todos os seres sonham seus
Passados e futuros

Palavras sonham gerânios

Toda palavra é um poema
Uma obra contida em si

É ela que me gera
E me põe em contato com
O fundo das estrelas

domingo, 19 de outubro de 2008

Sobre a metáfora

Sobre a metáfora

Só a metáfora pode domar o tempo
Porque é nela que as horas repousam
A metáfora conhece a vida íntima de Deus

E o poema sabe disso.

Deus é um segredo meu.

Para mim Ele já está revelado

E o que posso dizer
É que Deus trabalha à noite
Sonhando o futuro

(A metáfora é a língua do tempo)

Mas a noite já sonhava
Com seu nascimento
Antes mesmo de ser sonhada

Às vezes, Deus vai dormir dentro do mar
Porque o mar é o profeta das metáforas

sábado, 18 de outubro de 2008

Rito

Rito

Nascer um poema exige ritos
Uma certa cerimônia com as estrelas
Uma observância na índole da noite
E um certo sentimento de mar

(Preciso, às vezes, beliscar um anjo de Rilke)

A travessura das crianças
Também me preparam para um poema

A intuição é a conciliação
Do homem com a poesia

O clarão é a rotina do poeta

Acho que não tenho um estilo
O estilo sou eu mesmo

Minha obra é a minha relação
Com a vida

E a vida é um instante
E um poeta deve saber disso

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Reflexo

Reflexo

Reter o tempo num espelho
É refletir a luz sincera
Que revela os horizontes

A imagem do tempo
É também a minha

A noite é uma dor refletida
Refazendo minha face
A cada dia

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O rugido da memória

O rugido da memória

Minha memória
É um leão ferido
Passeando sobre o coração
Rugindo vestígios
Sobre a relva da alma

Mas um leão ferido
Ainda é um leão

Mesmo cambaleando
E acossado pela
Dor

Um leão é capaz de atacar
Dentro da noite
No sonho dentro do sonho
Na lucidez dentro da lucidez

Minha memória é um rugido
Acometido pelo tempo
Minha memória
É a sobrevivência da fera
Em movimento

Deus envelhece na sabedoria do leão

Minha lembrança é um Deus envelhecido

Todo leão carrega nos olhos
O instinto de ser sábio

A memória do leão sonha
Hienas, lebres e coelhos

Mas pode sonhar também
Lírios selvagens

Minha lembrança são esses lírios

A ferida num leão
É uma dor que repousa no tempo

Mas um leão ferido
Ainda é um leão

E ataca.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Preguiça

Preguiça


O sol derrama sua ternura sobre mim
Levantar da cama é sempre um acordo
Com a preguiça

(Arrumar a cama
é prever o dia)

Um passarinho pousa na janela
E escuta o repouso dos meus sonhos

Depois leva no bico
Um pedaço de palavra adormecida
E dá de comer aos filhotes

E estes hão de espalhar
Seus cantos
Para nascer madrugadas

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Perder o tempo

Perder o tempo


É preciso perder o tempo
No sossego das lesmas
Desmanchar a pressa
Num amor demorado

Perder o tempo
É por a alma em movimento

Agora me despi
Do hálito das horas

Agora perco o tempo
Em folhas caídas
E em tardes sussurradas

Deixo o tempo
Na pressa da chama

E depois...

Me permito poemar
Na cama

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Destino

Destino

Icei a vela
Do barco de mim mesmo

Carregando a vontade
De um lampejo
Onde tu pressintas minha chegada

Teu continente é o meu destino
Teu coração
Minha morada

domingo, 12 de outubro de 2008

Noturno

Noturno


Meus olhos mergulham noite adentro
Depois emergem do profundo
Ouço pássaros na sombra
Ouço cantos
Eles anunciam a lucidez do dia
E enquanto adormeço serenamente
A noite me sonha

sábado, 11 de outubro de 2008

Céus de rapina

Céus de rapina


Meu coração
É o céu
Onde voam
Aves de rapina

Na direção selvagem
E repentina
Sons e ventos
Milagram
A fúria das nuvens

Meu coração
Galopa céu adentro

A paz está selada
Meu coração é sossego
Depois da
Tempestade instalada

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Poema sonhado

Para Adélia Prado

Poema sonhado


Sinto um sono justo
Que me percorre a espinha

Um sono profundo

Adormeci meus
Pensamentos
Na cama quente
Dos sentidos

Um poema nasce
Sonhado

Deus acomoda
Meu abandono
Entre as mãos
E um vento sussurrado
Me desperta entre os seus vãos

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Oração

Para Deisi

Oração

Teu sussurro é uma oração
Pondo em movimento
O espirito das pedras

Teu verso sagrado
Excita a madrugada
Orvalhando as manhãs

E o perfume que exalas
Salva o dia
Protegendo o amor dos pássaros
Nas tardes quentes de verão

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pergunta 3

Pergunta 3


Onde o mar descansa
Depois de fazer amor com a praia?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Farol

Farol


Minha tristeza é solitária
Como um cão molhado
Vagando pela chuva

A solidão é um farol apagado
Mar aberto
Poema calado

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Um poema também morre

Para Monsieur Teste e Paul Valéry

Um poema também morre

Um poema também morre
Quando, no fundo da estante,
Permanece fechado

Um poema morre
Quando a poeira conforta suas palavras
Ou quando o esquecimento é sua rotina

A morte de um poema
É a palavra de abismo
É a perda dos sentidos

Fim intelectual
Marcha fúnebre do sentimento

domingo, 5 de outubro de 2008

Mensagem

Mensagem

Mar,
Recolhe as palavras
Que o vento deixa cair
E com elas elabora
O movimento das marés

Com a língua das águas
Marca a terra
Com um verso longínquo

Depois, guardas um
Poema numa concha
E envia aos homens
Através das ondas
Como se cada estrondo
Fosse uma estrofe de Camões

sábado, 4 de outubro de 2008

Beatriz

O espetáculo "Beatriz - a beleza e tristeza" está de volta. Lá na Usina do Gasômetro. A peça é inspirada num conto de minha autoria e em dois poemas: um da Gerusa Marques e outro, do Diego Petrarca. Assisti ao espetáculo duas vezes, e ver o próprio texto adaptado para o teatro não deixe de ser algo prazeroso. Tenho a noção de que toda a adptação de um texto literário transforma-se em outra obra. Claro que a tentação de comparar é quase inevitável. Portanto, as "Beatrizes" tanto a do meu conto, quanto a da peça carregam o mistério que cerca o universo feminino e a sua idealização através universo masculino ou como bem escreveu Antônio Hohlfeldt em uma crítica sobre a peça: "A idealização dessa Beatriz às potenciais imagens que Beatriz poderia assumir desdobram-se imagens do feminino, do humano, da beleza e da tristeza". No entanto, o que se passa em meu conto é na verdade uma Beatriz incompreendida, que abandona o marido "não para fugir dele, mas dela mesma".
As pessoas que leram o conto tem me perguntado quais seriam os motivos que levaram Beatriz a abandonar o marido já que viviam uma vida tão bela e intensa, e eu respondo que não sei, porque é uma questão que só ela pode responder. Talvez a Performance de Fernanda Carvalho Leite responda um pouco por esta questão já que lá pelas tantas, no espetáculo, ela pergunta para onde Beatriz teria ido e quais teriam sido os seus motivos elencando, assim, uma série de possibilidades para a personagem.
O espetáculo é poético, sem dúvida, a música tocada ao vivo e a dança tornam a peça tanto bela como triste, bem como sugere o título.
E cumprindo a minha aposta comigo mesmo, aí vai mais um poema:
Chuva
A tristeza começa no silêncio
Gotas no zinco
Comovem pássaros e árvores
Encosto palavras no vidro da janela
Os olhos desenham o frio
No vidro embaçado
Mãos silenciosas tecem o céu cinzento
Desamparo e sossego caem sobre os telhados
O vento acena com folhas de laranjeira
Aqui dentro a ausência perdura
Mas lá fora a chuva é passageira

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Pergunta 2

Pergunta 2

Onde o oceano guarda
As sombras da lua?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Ulisses negro

Para Homero


Ulisses Negro


Quando Ogum tocou o mar
Trazia nos olhos
A vertigem das ondas
Nas mãos, a coragem da espada
E nos gestos, a solidão do vento

Jangada de pedra
Pedaços de África
Navegam sob seus pés

(Que em terra não se navega o equilíbrio)

Com a espada risca o sol
E parte o dia em dois
As mulheres do mar verdejavam
Sobre as águas

E toda a mulher que entra no mar
Torna-se encantada

Ogum nunca tapou os ouvidos para as sereias
Ao contrário; ouviu-as e depois cantou para elas
Um canto triste
Alegre e pungente
Como a voz de um atabaque

"Minha voz é um sopro
no ouvido do mundo"

À noite, Ogum avança
Cingindo as águas
Em sua memória
Abraça as sereias
Salvando-as
Da dor do esquecimento

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Profundidades

Para João Cabral

Profundidades


Há mais profundidade
Na resistência das rochas
Que no fundo do mar

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Vento sóbrio

Vento sóbrio


O vento sóbrio da primavera se pergunta:
De quantas saudades são feitas as plantas?
E quantos desertos
Cabem na alma de Deus?

O tempo ensina:
Flores são belas
Porque ultrapassam a dor de crescer

A terra colhe
Uma pétala esmaecida
Que flores só são lembradas
Ou quando são roubadas
Ou quando são esquecidas

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Aprendizagem

Aprendizagem

A aprendizagem da noite
É pelo sonho
Ouvir o mar é da infância

Viver é saber a noite
Antes que anoiteça

Saber o mar é da velhice

domingo, 28 de setembro de 2008

Sartre e as palavras

De tudo que Sartre escreveu, talvez o mais significativo não esteja no seu tratado existencialista, ou nos romances, nem em suas peças e contos. Mas num livro de memórias chamado "As palvras" (le mots). Trata-se de um relato poético sobre a sua infâcia e o seu amor pelos livros. Há em todo livro frases desconcertantes como: " os livros foram meus passarinhos e meus ninhos, meus animais domésticos, meu estábulo e meu campo: a biblioteca era o mundo colhido no espelho e tinha sua espessura infinita" ou "Eu achara a minha religião: nada me pareceu mais importante do que um livro".
No entanto, a frase mais pertubadora é "comecei minha vida como hei de acabá-la, sem dúvida no meio dos livros". Pertubadora, porque o amor pelos livros pode ser algo perigoso a ponto de acabarmos por trocar as pessoas pelos livros. No meu caso é diferente, talvez eu acabe no meio dos livros por outro motivo, talvez eu a Deisi sejamos, literalmente, soterrados por eles neste exíguo apartamento.
Neste sentido, acho que Sartre tem razão.

Para Deisi

O mundo gira quando



Cada vez que tu despertas
Deus entende
Que é sempre primavera

O teu olhar amanhecido
Pinta o céu
No azul mais profundo

Teu sorriso
Desabrocha as flores

E o teu singelo gesto
De levantar
Põe de volta
O mundo a girar

sábado, 27 de setembro de 2008

Indiferença

Indiferença


Hoje não estou para poemas
Estou para pássaros
Para chuva
Para o sono
Para o bocejo ou
para o sonho

Não me falem em poetas
Não me abram os livros
Não me leiam os versos

Hoje um tomo do Bandeira
Me caiu na cabeça
Poesia não perdoa indiferença

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

constatação

Constatação:

O mar também envelhece.
As ondas são memórias

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Oásis

Para Deisi


Oásis


Teus olhos são oásis
Onde o universo descansa

Enquanto o passado
Se preocupa com
Os vestígios do tempo
Tu acomodas
O mundo em tuas mãos
E nele, sopras as nuvens
Que limpam o céu

E este céu é teu!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Quando te despes

Para Deisi

Quando te despes


Quando te despes
O mar inteiro se abre
Cada vez que te desfolhas
O vento te sonha

O mar é teu segredo

Na ponta dos teus dedos
Ordenas as ondas que,
Em tua homenagem,
Já nascem sem medos

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Singelezas

Às vezes, a singeleza das crianças me causa espantos. Esses dias, em uma aula com meus alunos da 5º série, solicitei a eles que escrevessem poemas para as pessoas que mais gostavam. Algum tempo depois, um menino me chamou reclamando que não conseguia escrever uma só linha, nada, nenhuma palavrinha. Disse a ele que tentasse qualquer coisa, qualquer palavra. Mas não adiantou. Assim, o período passou e ele ficou segurando o queixo com a palma da mão. No final da aula ele veio falar comigo:
"Sor (professor) como é que a gente aprende a ser poeta?"
Foi uma pergunta, assim, a queima roupa. Como responder? Pensei em dizer que isto não se aprende na escola, que não existem estudos para formar poetas. Mas não disse. Precisava de algo mais simples para dizer. No entanto, ele estava ali, me olhando, pedindo minha opinião:
"Acho que ser poeta é gostar da vida" eu disse
E ele, com um sorriso traquinas, respondeu:
"Então eu já sou poeta, porque eu gosto da vida, principalmente na hora do recreio".

Sobre as lições de um poema


Um poema não dá lições
Um poema acontece
Dele emerge a solidão do mundo
E o amor pelas coisas

O poema nunca estabelece
Um poema provoca, alucina e desarvora

Mas poema é sossego
Deliciosa vertigens dos espantos

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Mundo

Para Bernardo Soares

Mundo


Não há como dizer que não vi o mundo
Eu vi!
No entanto, meus versos perdem a voz
Diante da vastidão
Queria ser como Fernando Pessoa
Que viu tudo que valia a pena ver
E entendeu-as,
e sofreu-as,
e amou-as
com desassossego e desamparo

domingo, 21 de setembro de 2008

Amores difíceis

Ando lendo alguns contos do livro "Amores difíceis", do Ítalo Calvino, uma bela obra, com certeza. Creio que algumas frases deste livro vão passar a morar dentro de mim. Por exemplo no conto "a aventura de um poeta" onde um casal passeia de barco rumo a uma gruta de rara beleza. Usnelli, o poeta, pedia para ir mais devagar pois "desconfiado (por natureza e por educação literária) em relação às emoções e às palavras de que os outros já se apropriaram, acostumado a descobrir mais as belezas escondidas e espúrias do que as óbvias e indiscutíveis(...)"
O que Calvino nos mostra com isso é que beleza pode estar escondida dentro dela mesma, ou seja, os olhos do poeta devem ir além do óbvio, desconfiar das palavras fáceis, dos sentimentos fáceis para, assim, descobrir novas belezas ou permanecer atento quando elas se revelam.


Asas

Poemas são asas
A espera de pássaros

É dolorosa a jornada das aves sem asas
Que, por não conhecerem o céu,
Ainda migalham metáforas pelo chão

sábado, 20 de setembro de 2008

Antes do mergulho

Antes do mergulho

Antes do mergulho
Pressentir que a sabedoria do mar
É gerada pela noite
No afago com o mistério

Não esquecer
Que a memória dos mares
Cintila nos rastros dos peixes

Aprender que o mar
Não se guarda senão nos olhos
Ou no deserto do amor

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Repouso

Para Deisi

Repouso

Dorme, querida, dorme
No meu peito repousa teus sonhos
Escolhestes minha ternura como tua morada
Mas ai de mim!
Que sou tão pequeno diante da beleza
Que carregas

Dorme, querida, dorme
Dorme dentro da noite e sonhes
Girassóis ao teu redor
Caminhe em silêncio até um lago
E veja o reflexo que enternece a vida

Depois, ao acordares, não me olhes
Por um tempo não me olhes
Pois ainda estarei desfigurado
Estarrecido, fraco por não entender
Tanta a beleza adormecida
Em meu peito

Pergunta

Pergunta 1

Onde o mar sepulta
O abandono das sereias?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

como lidar com leões

hoje lendo uma entrevista da pensadora argentina Beatriz Sarlo, encorajei-me mais um pouco em levar a cabo o projeto deste blog. Beatriz diz que manteve um blog secreto, que só ela acessava, como um diário, disse também que só manteve-o por questões formais, por um comprometimento regular com a escrita. Fiquei pensando que manter a regularidade é o mais difícil, pois regularidade é ultrapassar as dificuldades da vida prática, do cansaço, da preguiça, da dor de cabeça, dos problemas familiares, dos compromissos no trabalho. Sobretudo, escrever poemas, carrega um peso a mais. Poema é dizer o máximo com pouco, às vezes, muito pouco. É, portanto, uma "luta corporal", como diria Ferreira Gullar, uma luta com as palavras, no meu caso uma luta diária.

para Walt whitman

Como lidar com leões
As pessoas têm vindo
Reclamar-me do mundo
Eu as escuto, paciente
Enquanto a mim, nunca reclamo
Eu não me lamento
Porque não sou um poço de lamentações
Também não peço nada a Deus
Nunca peço, só agradeço
Lido com meus fantasmas
Como um domador lida com seus leões
Com os olhos sagazes e firmezas nas mãos
Leões não me assustam

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pena

Segue mais poesia:

Pena

Minha sensibilidade é uma pena
Desgarrada de um pássaro selvagem
Flanando no tempo e no espaço

O vôo efêmero da pena é ainda
O que há no fundo das coisas eternas

A pena flana sobre a beleza e sobre a dor
O vento triste orquestra seu caminho
Ao cair, leve, triste e sossegada
Vive, ainda que imóvel,
No calor do vôo e no sentimento do tempo,
A experiência dos que só conhecem o chão.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Depois de uma noite

Creio que, depois de uma noite, me dei conta da dimensão do meu compromisso com este blog: 1 poema por dia, durante seis meses, o que no fim das contas vai dar quase uns 200 poemas. Para tanto, preciso de fôlego, não de inspiração. Não acredito em inspiração, acredito na pré-disposição, no trabalho artesanal da escrita. Na seriedade quanto tecitura poética. Desculpem-me se no caso houver uma falta de rigor nos versos, pois o que me importa talvez não seja o mar, mas o mergulho.
Portanto, aí vai mais um:

Para Deisi
Tarde

Longa é a tarde na ausência do teu rosto
Cedo é a noite, quando entre cheiros,
Me perco no labirinto
Do teu corpo

domingo, 14 de setembro de 2008

sobre o blog

Há algum tempo que tenho pensado em manter uma rotina quanto a escrita, visto que sou um baita preguiçoso pra isso, bom este blog é pra isso: me comprometi a escrever todos dias, ou melhor, escrever um poema por dia durante seis meses. É um plano quixotesco, eu sei, mas sigo as palavras de Osman Lins que diz "Em literatura, é inadmissível planos modestos". É quixotesco porque escrever um poema por dia exige uma certa seriedade com a escrita (coisa que pretento aprender a ter), o que vai me obrigar a manter um olhar mais atento diante das coisas e olhar a vida mais honestamente.

Bom, quanto ao título do Blog... é o título de um conto meu chamado "A beleza e a tristeza" que foi destaque do concurso Palcohabitasul em 2006, depois foi adaptado para o teatro pela Debora Finocchiaro e encenado pela Fernada Carvalho Leite em 2007, lá no Teatro São Pedro em 2007 e 2008.
Aqui vai o endereço de um trecho da peça "Beatriz - a beleza e a tristeza"
http://br.youtube.com/watch?v=41Pk7AR31uI

E aqui vai mais um poema:

A pátria das palavras

A poesia é a minha pátria
Na qual minha alma cresce
Hoje um poema me salvou
Porque me deu um universo onde morar

Um poema é isso:
Um lugar para existir
Uma casa e um quintal com girassóis

Meu corpo é a pátria dos meus versos
Às vezes cultivo palavras
Noutras, nasço universos

sábado, 13 de setembro de 2008

Só pra começar...

Mergulho em mar aberto

Meus pensamentos são sonhos
Que se desfolham em palavras
Depois de seladas na língua
Sonhos são poemas atravessando a lucidez

Agora, meus pensamentos
São pétalas vermelhas jogadas ao vento

É no mar que elas repousam

Meu pensamento vaga na imensidão do incerto
Meu pensamento é um mergulho
Em mar aberto