sábado, 4 de outubro de 2008

Beatriz

O espetáculo "Beatriz - a beleza e tristeza" está de volta. Lá na Usina do Gasômetro. A peça é inspirada num conto de minha autoria e em dois poemas: um da Gerusa Marques e outro, do Diego Petrarca. Assisti ao espetáculo duas vezes, e ver o próprio texto adaptado para o teatro não deixe de ser algo prazeroso. Tenho a noção de que toda a adptação de um texto literário transforma-se em outra obra. Claro que a tentação de comparar é quase inevitável. Portanto, as "Beatrizes" tanto a do meu conto, quanto a da peça carregam o mistério que cerca o universo feminino e a sua idealização através universo masculino ou como bem escreveu Antônio Hohlfeldt em uma crítica sobre a peça: "A idealização dessa Beatriz às potenciais imagens que Beatriz poderia assumir desdobram-se imagens do feminino, do humano, da beleza e da tristeza". No entanto, o que se passa em meu conto é na verdade uma Beatriz incompreendida, que abandona o marido "não para fugir dele, mas dela mesma".
As pessoas que leram o conto tem me perguntado quais seriam os motivos que levaram Beatriz a abandonar o marido já que viviam uma vida tão bela e intensa, e eu respondo que não sei, porque é uma questão que só ela pode responder. Talvez a Performance de Fernanda Carvalho Leite responda um pouco por esta questão já que lá pelas tantas, no espetáculo, ela pergunta para onde Beatriz teria ido e quais teriam sido os seus motivos elencando, assim, uma série de possibilidades para a personagem.
O espetáculo é poético, sem dúvida, a música tocada ao vivo e a dança tornam a peça tanto bela como triste, bem como sugere o título.
E cumprindo a minha aposta comigo mesmo, aí vai mais um poema:
Chuva
A tristeza começa no silêncio
Gotas no zinco
Comovem pássaros e árvores
Encosto palavras no vidro da janela
Os olhos desenham o frio
No vidro embaçado
Mãos silenciosas tecem o céu cinzento
Desamparo e sossego caem sobre os telhados
O vento acena com folhas de laranjeira
Aqui dentro a ausência perdura
Mas lá fora a chuva é passageira

Um comentário:

Fernanda Carvalho Leite disse...

Jeferson, para mim Beatriz assume mesmo esse mistério intrincado de desejos de ser. De ser compreendida por si mesmo e pelo outro e , acima de tudo amada por ambos. Beatriz - a BEleza e A TRIsteZa, é sintetizada em arquétipos femininos: a musa, a rainha, a santa, a atriz e ainda "aquela que faz feliz". Teu conto inspirou-me profundamente e resultou neste trabalho que tem amadurecido cada vez mais. Esta Beatriz me faz feliz. Obrigada por tê-la feito existir!
Um abraço,
Fernanda Carvalho Leite