segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Mini crônica sobre a ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

. Carlos Drummond de Andrade



A separação amorosa é a presença da morte na vida. É o contato com a ausência e com a dor. O amor é sempre união e separação. O amor são duas margens imóveis. A ponte é a possibilidade de chegarmos a outra margem. Às vezes, nós conseguimos atravessá-la. Mas a nossa margem, aquela imóvel, imutável, jamais poderá cruzar a ponte. Ela permanecerá sempre lá, do outro lado. E, às vezes, depois de passarmos o tempo necessário de sentirmos o outro, de fazermos uma espécie de cartografia às escuras dentro uma terra estrangeira, temos de ir, temos de voltar a nossa margem, pois a margem do outro, por mais que nós a conheçamos, por mais que a terra faça parte dos nossos passos, ela nunca será nossa. E de repente a margem do outro torna-se áspera, dura, difícil. E já não nos é familiar. E este é o momento de partir. Atravessar a ponte e regressar para nós mesmos, carregando nos olhos aquilo que vimos do outro lado do rio. Nesse caso, não há perdas. Só ausência. A ausência assimilada. Aquilo que se foi. Que nos pertence e que permanece em nós. Aquela que ninguém nos rouba.