terça-feira, 23 de setembro de 2008

Singelezas

Às vezes, a singeleza das crianças me causa espantos. Esses dias, em uma aula com meus alunos da 5º série, solicitei a eles que escrevessem poemas para as pessoas que mais gostavam. Algum tempo depois, um menino me chamou reclamando que não conseguia escrever uma só linha, nada, nenhuma palavrinha. Disse a ele que tentasse qualquer coisa, qualquer palavra. Mas não adiantou. Assim, o período passou e ele ficou segurando o queixo com a palma da mão. No final da aula ele veio falar comigo:
"Sor (professor) como é que a gente aprende a ser poeta?"
Foi uma pergunta, assim, a queima roupa. Como responder? Pensei em dizer que isto não se aprende na escola, que não existem estudos para formar poetas. Mas não disse. Precisava de algo mais simples para dizer. No entanto, ele estava ali, me olhando, pedindo minha opinião:
"Acho que ser poeta é gostar da vida" eu disse
E ele, com um sorriso traquinas, respondeu:
"Então eu já sou poeta, porque eu gosto da vida, principalmente na hora do recreio".

Sobre as lições de um poema


Um poema não dá lições
Um poema acontece
Dele emerge a solidão do mundo
E o amor pelas coisas

O poema nunca estabelece
Um poema provoca, alucina e desarvora

Mas poema é sossego
Deliciosa vertigens dos espantos

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