quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Ulisses negro

Para Homero


Ulisses Negro


Quando Ogum tocou o mar
Trazia nos olhos
A vertigem das ondas
Nas mãos, a coragem da espada
E nos gestos, a solidão do vento

Jangada de pedra
Pedaços de África
Navegam sob seus pés

(Que em terra não se navega o equilíbrio)

Com a espada risca o sol
E parte o dia em dois
As mulheres do mar verdejavam
Sobre as águas

E toda a mulher que entra no mar
Torna-se encantada

Ogum nunca tapou os ouvidos para as sereias
Ao contrário; ouviu-as e depois cantou para elas
Um canto triste
Alegre e pungente
Como a voz de um atabaque

"Minha voz é um sopro
no ouvido do mundo"

À noite, Ogum avança
Cingindo as águas
Em sua memória
Abraça as sereias
Salvando-as
Da dor do esquecimento

Um comentário:

Anônimo disse...

Um poema dos mais lindos que já li.