terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fôlego

Os limites do mar
Recuperam meu fôlego

Um poema acontece nas águas
Quando uma palavra me encanta
Ou quando num mergulho imprevisto
Me vejo indo ao encontro
De peixes e acasos

Redemoinhos vem para me proteger
Enquanto o sal sacia meu coração

O chão do mar sou eu mesmo
E eu mesmo posso ser o céu de minha alma

domingo, 28 de dezembro de 2008

100!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Muito bem, este é o centésimo poema!
Há 3 meses quando me propus a escrever 1 poema por dia durante 6 meses, achei que estava exagerando, ou que não poderia dar conta, já que um poema não se faz assim de uma hora para outra. No entanto, aí estão 100 poemas, claro que tenho noção de que apenas uma meia duzia carregam alguma qualidade poética, não digo isso por falsa modéstia, nem para arracar elogios, mas por honestidade e seriedade que cabe a alguem que pretende algo em literatura.
Muitos vieram me perguntar se eu já tinha poemas prontos. Na verdade, quando comecei eu tinha 20 poemas prontos e muitos pensamentos e frases soltas em meu caderninho de anotações. Bem, o fato é que esses 20 poemas acabaram, e então tive que prestar mais atenção em minhas antigas anotações e reelaborá-las, e invetar outras num ritmo mais acelerado e frequente. Houve dias em que um certo desespero me invadia porque eu só tinha rascunhos, mas o poema tinha que ser publicado e muitos vezes fui dormir quase de manhã para terminar um poema de 5 ou 6 versos.
Agradeço a todos aqueles que tem acompanhado meu esforço em manter este blog vivo, especialmente a Deisi Delagado, Cesar dias, Jorge Froes e sandra Tenorio.
obrigado!
C(s)em poemas
Hoje estou cansado
Como quem tocou o teto do céu
Ou porque ficou assombrado
com a fugacidade das nuvens
Estou cansado pelo meu corpo
ser o combustível
de minha própria poesia
Meus olhos estão cansados também
Pois a beleza e a tristeza
são coisas que pesam
nos espaços vazios do coração
Mas só um poema me põe
de volta na roda viva
Me revigora
E já passo a ser
Outro
dentro de mim mesmo
Por todos os dias
Por toda a vida

sábado, 27 de dezembro de 2008

O livro dos peixes

Onde os peixes secam suas lágrimas?

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O tigre e o mundo

“Dentro de mim vive um tigre. E o difícil é manter esse tigre sob controle”
Pedro Juan Gutierres


Dentro de mim vive um tigre
E as jaulas de minha alma estão abertas
O tigre é lento e sorrateiro

Nos olhos dele se guarda a sabedoria
Do instinto

As jaulas estão abertas
E o mundo está a sua espera

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Atenção:

O mundo parou

Os carros das cidades
Uniram-se num enorme engarrafamento
Pássaros suspenderam seus vôos em pleno ar
As plantas pararam de crescer
E todas as maquinas do mundo silenciaram

A morte deixou de matar
E a vida deixou de viver
Nuvens permanecem altas e claras
As águas dos rios estagnaram pelas margens

Sim, o mundo parou ao meu redor

Mas aqui
Dentro de mim
Há outro mundo funcionando
Pulsando a vida

E as coisas dentro meu mundo
Jamais pararam de acontecer

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Cristo

Hoje é natal
No entanto, mais importante
Que acreditar em cristo
É saber se Cristo
Ainda acredita em nós

Saber se a humanidade
Ainda germina nos olhos dos homens
Ou se ainda somos capazes de abraços honestos
Ou de uma palavra doce ao ouvido

Se Cristo acredita em nós
E se ainda não desistiu dos homens atrozes
Os mesmos que reduziram a grandeza humana
Nos gestos mais mesquinhos

Então eu acredito em cristo
Então eu acredito que há algo tão sagrado
Capaz perdoar o egoísmo humano

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Todas as partes do dia

para Fernando Pessoa


Eu sou do tamanho dos meus sonhos

Minha alma é da altura do que penso

Porém, meus pensamentos
Não são mais do que dois pássaros
Surgindo no horizonte
Voando na direção dos teus olhos claros

Meus pensamentos voam à noite
Pois as manhãs não são mais importantes
Que a noite
Nem a noite é mais importante que as manhãs

Todas as partes do dia têm sua importância
Todas as partes do dia têm sua verdade
Todas as partes do dia temos que existir

Tenho em cada dia uma infinidade
Do que posso ser
Mas creio que vou sendo na mediada em
Que invento o trajeto de meus pássaros

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sentimento de mar

Preciso do horizonte encostado no mar
Onde eu possa mergulhar
Até quase me afogar em tua languidez

Preciso perder-me num tempo
Dentro das águas
Encontrar um certo sentimento de mar

Ou um certo sentimento de ar

Qualquer lugar de onde
Eu possa emergir
Até a superfície de tua respiração

domingo, 21 de dezembro de 2008

Pedra

Pedra arremessada na lagoa

Durante o vôo
Ela conhece os segredos da movência

Estuda a história dos relâmpagos
E os afagos do vento

Pedra arremessada aprende
Que voar é desprender-se do arremesso

Mas toda pedra cai pelo do peso de viver

Pois não se regressa um voo acontecido

sábado, 20 de dezembro de 2008

Desamparo

Estou a olhar para mar
E o desamparo é inevitável
Diante de águas infinitas

A espuma é uma intuição fugaz

No movimento de cada onda
Minha infância se apruma e respira

Há homens que sabem olhar para um oceano

Eu não, só sei sentir

Enquanto isso,
Apenas planejo um mergulho

Simples, sossegado e profundo

Até que minha memória arqueje
Aos pés da criança que fui

O mar nasce é nos olhos da infância

Meu desamparo é uma ilha
Nascendo no mar

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Perfumes

Tenho sonhado perfumes

E os aromas são tão nítdos
como os girassóis de Van Gogh

Um perfume tece a madrugada

Me elevo até o nascimento de uma orquídea

Flores milagram aromas
para salvar meus sonhos

Os meus e os das nuvens
que pretendem cheiros doces e finitos

A fugacidade do perfume
Me completa e me conforta

Porque dormem na memória

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Domadora de raios

Domadora de raios


Sou prisioneiro dos teus pensamentos

Com uma pedra ao acaso
Risca o meu destino

És a domadora dos raios
E das tempestades em mar aberto

Quando te vestes de luz
Minha travessia é um cometa desgarrado

Tombo num mar alto

Sou um naufrago dentro dos teus gestos

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mundos

Mundos

Observo a rua pela janela de um bar
Pessoas caminham no seu ritmo
Cada uma carregando um mundo nos olhos

Algumas parecem em paz
Como se conhecessem o mistério da vida e da morte
Outras parecem doer à caminhada chorando pelo avesso

Só então percebo:
Há tantos universos a conhecer
Há tantas pessoas imersas em si mesmas

Mas Deus é tão cruel

Pois muitos anos vão passar
E mesmo assim
Sei que morrerei sem conhecer
Todas essas pessoas e os seus mundos

A vida é um relâmpago
Iluminando mundos e universos

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Segunda e terça

Começo

Meus olhos têm começo
E eles começam no teu corpo

Um passeio pela tua pele
É um sonho sendo construído

Teus olhos estão ungidos
Pelos relâmpagos e pela claridade

O mar contém suas ondas
Diante de tuas pupilas

E os corações dos peixes palpitam
Sob a ordem de tuas pálpebras

E um novo mundo começa
Cada vez que os teus olhos se movem
Na direção do infinito





Morrer o tempo

É preciso morrer o tempo
Num beijo profundo
Uma onda me leva
Para conhecer a vida até o fundo
E de lá
Volto à tona para o mundo
E a superfície é um manto
Escondendo a história do oceano
Depois retorno ao mar
Para morrer o tempo
Num mergulho difícil e sincero

domingo, 14 de dezembro de 2008

Salvo

Salvo


Não escrevo poemas
Para me ajudar

Poemas nunca me ajudaram
Em nada

Um poema nunca me deu um auxílio

A poesia não serve para isso

Um poema não pode ajudar ninguém

Mas um poema pode nos salvar
Todos os dias

Porque há um abismo entre ajudar e salvar

Ser salvo é abandonar-se nas mãos de Deus

Hoje me abandonei novamente nas mãos da poesia

Mas não escrevo apenas para ser salvo

Escrevo também para equilibrar o sol no horizonte

Escrevo para dilatar minhas pupilas

E reconhecer a realidade de um sonho

sábado, 13 de dezembro de 2008

Uma temporada no deserto

Uma temporada no deserto


O deserto é um pássaro com sede
E o meu corpo é uma fonte secando

Um homem só conhece a solidão
Depois de caminhar pelo deserto

Cada grão de areia
É uma palavra que o mundo deixou de dizer

A movência das dunas
É o discurso do tempo

E uma tempestade no deserto
É o destino mudando de lugar

Mas um destino não nos permite
Andar a esmo
Porque temos um compromisso com ele

A vida escolheu o deserto para
Secar a tristeza

O deserto é o nada que é tudo

Meu deserto é em todo lugar
Nos olhos exuberantes da noite
E também dentro de mim

Um homem só encontra um caminho
Quando aprende a trajetória do sol

Um homem só ama um deserto
Quando pode deixa-lo
Ou viver dentro dele






Alguma coisa

Esta noite alguma coisa
De Mozart e Bethoven
Ficou em mim

Algo grave

Talvez uma nota profunda retirada
De uma noite profunda
Tocada por um Chopin
Embriagado de chope

Alguma coisa de Vivaldi ou Verdi
Ficou espalhada
Nesta noite viva e lancinante

Alguma coisa de whisky
Permanece em minha boca
Ao sabor de Stravinsky

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Olhares

Olhares

Teus olhos marejam o rumo das águas
Dentro deles planejas a direção das marés
E o destino dos peixes

Gosto do modo como tu descansas
O teu olhar sobre as coisas

Teus olhos explicam o amor

E tua serenidade abraça
Minhas inquietudes

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Fogo brando

para Frederic Chopin

Fogo brando

A vida é um lampejo

Labaredas dançam no escuro
E vão descobrindo a geografia da noite

Brasas cansadas
Ainda sustentam
Um rumor de vida
Na ponta de uma fogueira

Ouve-se um piano ao longe
Pairando melodias sobre um fogo brando
Calado e profundo

Há pelas ruas um fogo triste
Como se Chopin tocasse
Em todas as casas noturnos infinitos

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Neblina em Porto Alegre

Neblina em Porto Alegre

A noite cai sobre porto alegre
Há uma breve neblina
Adormecida nos morros e nos quintais da minha alma
A madrugada começa a viver dentro mim
Tão plena como as paragens celestes
Guardadas no fundo das estrelas

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Sobre ventos e flores

Sobre ventos e flores

O silêncio migra para outro silêncio
Enquanto uma flor vence um furacão
Vence, porque suas raízes já haviam
Aprendido a amar a terra

E toda a raiz sabe a vida até o fundo

Porém, cada silêncio é uma palavra condenada

As flores não conhecem o tempo
Por isso resistem com sua beleza
Aos ventos fortes e mordazes

Sim, querido Drummond, outra flor nasceu na rua

Uma flor difícil
Compreendida apenas pelos pássaros
Ou por uma brisa à beira mar

domingo, 7 de dezembro de 2008

Bondade

Bondade

Há dias em que acordo
Com uma estranha ternura
Pelas pessoas
Uma ternura tão ingênua
Que passo a crer em todas elas
Como se todas fossem capazes
De gestos benevolentes e doces

Como se todas fossem capazes
De amar um oceano inteiro
Mesmo sem compreendê-lo

Há dias em que vida é tão vasta
Que todos os medos se perdem pelos bosques
E um caminho feito de terra e céus
São inventados por pessoas bondosas

E há os dias como estes
Em que um céu estrelado
Guarda meu sono
Enquanto a bondade do mundo
Trabalha meu destino

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sexta e sábado

Forasteiro

Estou vindo de um lugar que não há mais
Um lugar onde as mulheres
Eram vestidas de sol
E os homens fechavam os olhos
Para senti-las passar

De onde eu venho não há solidão
E o tempo é algo tão longínquo
Quanto qualquer instante
Desenhado no horizonte

De onde eu venho
Cada lágrima tecida
Comove todos os homens e todas as mulheres
E os velhos por um momento
Deixam suas memórias
Para reconhecer um pouco mais de tristeza




Alma

O poema é a morada
Das minhas angustias
A história da minha poesia
Está submersa nas almas
De todos os homens
E de todas as mulheres

Meus poemas são memórias

E a memória está sempre ameaçada pelo tempo

No entanto, a memória se defende
Inventando passados

Imaginando vestígios
Driblando verdades

Mas a verdade só é
O caminho que vou imaginando

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ernesto Sabato

Ernesto Sabato

Terminei de ler o livro “a resistência” de Ernesto Sabato e saí com a sensação que a melhor forma de viver é resistir. Mais do que um velhinho dando lições de moral, Sabato com seus 90 anos se mostra lúcido e vigoroso ao resistir com palavras à tempos sombrios como o que vivemos. Sabato resgata valores, a experiência, a sabedoria e o amor pela vida. Desde o seu livro “Sobre heróis e tumbas” que Sabato não me comovia. Peço que prestem atenção neste trecho de “A resistência”:

“Esqueci grandes trechos da vida e, em compensação, ainda palpitam em minhas mãos os encontros, os momentos de perigo e o nome daqueles que me resgataram das depressões e amarguras. Também o de vocês que acreditam em mim, que leram meus livros e me ajudarão a morrer”

Aproveito este trecho para agradecer as poucas pessoas que têm lido e acompanhado meus poemas, parafraseando Sabato:

“Ainda palpitam nos meus olhos os encontros, os momentos difíceis, o nome daqueles que abriram a porta do quarto, acenderam a luz e me resgataram das amarguras. E também o de vocês que acreditam em mim, que leram meus poemas e me ajudarão a viver”

Obrigado!



Solidões


Cada pessoa carrega
Uma solidão diferente

Existe a solidão necessária
Aquela que nos faz
Uma Espécie de ilha
E assim tateamos nossos limites
Até sabermos
Onde a terra finda e o mar rebenta

Mas há a solidão de doer
Aquela que dói nos ossos
E desta que estou a falar
Do peso da ausência
Que as pessoas carregam nos ombros
E nos olhos
Quando caminham caladas e remotas

Curo minhas ausências
Prestando atenção
Na solidão dos outros
E na minha também

Só Deus tem direito a solidão

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Procura

Procura

O que procuramos
Não está no tempo
Nem nos aços dos espelhos

O que procuramos está sendo construído
Está sendo imaginado por uma
Força bruta e delicada
Às margens de um rio

Mas o tempo não é nosso
É das palavras e das coisas

A metáfora me conhece antes de mim

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Chuva fria

Chuva fria

Hoje uma chuva fria
Me fez prestar mais atenção
Nos gestos dos outros
E também no modo como as pessoas
Se protegem dos pingos

Dos ventos

Elas encolhem os ombros
Fecham os olhos
Como se buscassem abrigo
Dentro de si mesmas

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sustento

Sustento

Evocar a poesia é um pacto com a solidão

A presença difícil de um poema
Me conforta

Ou me torna impossível

Mas um poema é tão vasto
Que pode caber
Dentro de um coração partido

Porém, mantenhamos calma

O universo está por um fio
Mas o céu pode ainda sustentá-lo