sábado, 3 de janeiro de 2009

Nesga

Leão,
Quando sol pousar
Nos teus olhos profundos e ferozes
É sinal de que o teu dia
Será em outro tempo
E tu, leão, serás um estrangeiro
Dentro de ti mesmo
Teu corpo pesado
Não reconhecerá teus movimentos
Aves e homens
Estranharão o modo como passeias
Porque teu passeio será invisível
Então, leão, seguirás o sol
Como se buscasse o nunca
Até que cansarás
E sentirás sede
Porque os leões não sabem
Que o sol é inalcansável
Depois, a beira do rio,
Beberás água
E vais acompanhar
O sol deitar a sua luz
E verás, leão, que a busca é vã
Mas o teu passeio é válido
Amanhã o sol surgirá
E tu voltarás a ser um predador
E esquecerás o sol
E que este dia foi apenas
uma nesga de ti mesmo