Rumor da Poesia
O rumor da poesia
Entende o universo
E compreende que a palavra
É um milagre de Deus
A criação de um poema
Caminha na rua
Comigo.
A luz da manhã
Me diz que
As palavras, às vezes, são
As ruínas do tempo
Aprendo que a palavra é inesgotável
Quando dorme ao sol
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Poço
Poço
Hoje sinto-me capaz
De dizer tudo
Sinto-me capaz de cantar a dor dos que caem
No poço
No poço dentro do poço
Cantar aqueles que amam além da conta
E se contentam com migalhas de carícias
Hoje sou capaz de cantar
A partida e o regresso
A incompreensão e a delicadeza
Sinto-me tão capaz
Que posso ainda acordar o sono
Abrir o dia
E deitá-lo nos braços da noite
Hoje sinto-me capaz
De dizer tudo
Sinto-me capaz de cantar a dor dos que caem
No poço
No poço dentro do poço
Cantar aqueles que amam além da conta
E se contentam com migalhas de carícias
Hoje sou capaz de cantar
A partida e o regresso
A incompreensão e a delicadeza
Sinto-me tão capaz
Que posso ainda acordar o sono
Abrir o dia
E deitá-lo nos braços da noite
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
À caminho
À caminho
Passado são migalhas
O futuro é um sigilo
E me contento com isso!
O tempo me resigna
Mas cair é um fato
Voar é uma escolha
Só o presente é voável
Heidegger me observa:
Vou sendo
Sou um poeta à caminho
Meu destino é a intuição
Como um tigre acuado
O passado é uma nesga
O futuro:
Des
ca
minho.
Passado são migalhas
O futuro é um sigilo
E me contento com isso!
O tempo me resigna
Mas cair é um fato
Voar é uma escolha
Só o presente é voável
Heidegger me observa:
Vou sendo
Sou um poeta à caminho
Meu destino é a intuição
Como um tigre acuado
O passado é uma nesga
O futuro:
Des
ca
minho.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Poema triste
Poema triste
Estou sentado na orla da praia
A tormenta ainda não desabou
O céu retém as nuvens pesadas
Como se estivesse retendo
No peito mágoas amalgamadas
A areia seca conforta meus pés
O mar tange a minha dor
Com seus movimentos bruscos e oblíquos
Um vento lapida meu olhar
Minha tristeza é justa
Como estas nuvens cinzas que pesam sobre o mar
O oceano me protege
Lá no silêncio do horizonte
Toda a tempestade
São as dores que o mar ecoa.
Uma chuva fina
Cobre os meus gestos
Nuvens começam
O regresso
Estou sentado na orla da praia
A tormenta ainda não desabou
O céu retém as nuvens pesadas
Como se estivesse retendo
No peito mágoas amalgamadas
A areia seca conforta meus pés
O mar tange a minha dor
Com seus movimentos bruscos e oblíquos
Um vento lapida meu olhar
Minha tristeza é justa
Como estas nuvens cinzas que pesam sobre o mar
O oceano me protege
Lá no silêncio do horizonte
Toda a tempestade
São as dores que o mar ecoa.
Uma chuva fina
Cobre os meus gestos
Nuvens começam
O regresso
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Elogio ao instante
Elogio ao instante
O instante desaba sobre meus ombros
E sinto uma vontade chorar
Tenho nos olhos resquícios de tristeza
Vazios preenchem meu corpo
Como lírios transparentes
O tempo já sabe as borboletas
Por isso as torna infinitas
Em duas semanas
O tempo sabe ausência do amor
Os homens nascem para a eternidade
E só deixam de ser eternos
Quando deixam de amar
Sinto uma dor
Ao saber que o instante
Nos dias de hoje,
É sempre passado
Mas toda a existência é um instante
Em tempos como estes
Em que o instante não existe
Em que a rapidez
É o que persiste
Resistir é que nos resta.
Resistir é amar.
O instante desaba sobre meus ombros
E sinto uma vontade chorar
Tenho nos olhos resquícios de tristeza
Vazios preenchem meu corpo
Como lírios transparentes
O tempo já sabe as borboletas
Por isso as torna infinitas
Em duas semanas
O tempo sabe ausência do amor
Os homens nascem para a eternidade
E só deixam de ser eternos
Quando deixam de amar
Sinto uma dor
Ao saber que o instante
Nos dias de hoje,
É sempre passado
Mas toda a existência é um instante
Em tempos como estes
Em que o instante não existe
Em que a rapidez
É o que persiste
Resistir é que nos resta.
Resistir é amar.
domingo, 26 de outubro de 2008
Criação
Criação
Aquilo que a imaginação secreta
Me serve de espelhos
Imaginar é mais importante que conhecer
Imaginar é o tempo pelo avesso
A criação não sabe voar para fora
Porque voa para dentro de nós
Beija-flores me exercem
Toda vez que imagino
Um sonho é adivinhado
A criação inventa
A poesia realiza
Criar é ter coragem
Uma chuva sonhada
È o pesadelo do deserto
Existo. Imaginando.
A criação não tem idade
Não envelhece
Como os sonhos
Aquilo que a imaginação secreta
Me serve de espelhos
Imaginar é mais importante que conhecer
Imaginar é o tempo pelo avesso
A criação não sabe voar para fora
Porque voa para dentro de nós
Beija-flores me exercem
Toda vez que imagino
Um sonho é adivinhado
A criação inventa
A poesia realiza
Criar é ter coragem
Uma chuva sonhada
È o pesadelo do deserto
Existo. Imaginando.
A criação não tem idade
Não envelhece
Como os sonhos
sábado, 25 de outubro de 2008
Ela
Para Deisi
Ela
Às vezes elas me vem
Como uma borboleta
Soletro o seu nome
Como se fossem flores
De dia
Seca os cabelos ao sol
À noite
Inventa palavras pela lua
Corrige minha intuição
Com um sopro de bondade
"A vida é um sonho", ela sussurra
Mais tarde...
Ela veste a madrugada
Com seu corpo de estrelas
Seus olhos choram orvalhos
Abençoando begônias e violetas
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
A poesia provocada
A poesia provocada
A poesia é a aparição da linguagem
Dentro dela residem palavras
Modeladas pelo tempo
A poesia conhece abismos
A palavra exerce o salto
Mas sejamos práticos:
O destino da palavra é nomear
E o que nomeia revela
O mundo se desvenda, palavrando.
Tudo é linguagem
E para mim é o que basta!
A palavra não filosofa
Age sobre vida
Quem filosofa são os homens
Vamos, sejamos pragmáticos!
O destino da palavra é substantivar
A existência
A palavra tatua na língua
A linguagem dos ventos
E o vento precisa ser compreendido
Para equilibrar o vôo dos poemas
A poesia é a aparição da linguagem
Dentro dela residem palavras
Modeladas pelo tempo
A poesia conhece abismos
A palavra exerce o salto
Mas sejamos práticos:
O destino da palavra é nomear
E o que nomeia revela
O mundo se desvenda, palavrando.
Tudo é linguagem
E para mim é o que basta!
A palavra não filosofa
Age sobre vida
Quem filosofa são os homens
Vamos, sejamos pragmáticos!
O destino da palavra é substantivar
A existência
A palavra tatua na língua
A linguagem dos ventos
E o vento precisa ser compreendido
Para equilibrar o vôo dos poemas
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Um poema
Um poema
Um poema não sabe toda vida
Mas sabe algo sobre ela
Pode um poema medir
A eternidade
E a eternidade cabe é na infância de Deus
Um poema convida para
O mistério
E revela a perplexidade
Das coisas findas
Uma poema não diz a verdade
Pressente
Um poema não sabe toda vida
Mas sabe algo sobre ela
Pode um poema medir
A eternidade
E a eternidade cabe é na infância de Deus
Um poema convida para
O mistério
E revela a perplexidade
Das coisas findas
Uma poema não diz a verdade
Pressente
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Poema da saudade
Para Deisi
Poema da saudade
Hoje acordei
Com dois poemas
Nos olhos:
Um se partiu ao sol
O outro, consolou-me
A tua ausência
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Longa jornada noite adentro
Para Walt Whitman (parte II)
Longa jornada noite adentro
Muito bem!
Chegou a hora
De esclarecer algumas coisas
Ouçam todos:
Longa jornada noite adentro
Muito bem!
Chegou a hora
De esclarecer algumas coisas
Ouçam todos:
Esta noite meus versos irão revelar
A substância que age no mistério
A substância que age no mistério
Esta é a noite em que a lucidez cairá sobre todos
Como estrelas cadentes
Despencando do céu em chamas
Como estrelas cadentes
Despencando do céu em chamas
Esta noite escreverei os versos mais sinceros
Com uma sinceridade que abrange os anjos
Com uma sinceridade que abrange os anjos
Sentem-se, por favor
É que um mistério
Demora para ser contado
É que um mistério
Demora para ser contado
A lucidez é a ausência
Do sonho
Do sonho
Só se vive imaginando
Agora estes versos me imaginam
E também vocês vão sendo imaginados
E também vocês vão sendo imaginados
Esta noite vou tentar eliminar minhas contradições
Serei reto como um poema em linha reta
Tentarei ser claro, mesmo sonhando a escuridão
Serei reto como um poema em linha reta
Tentarei ser claro, mesmo sonhando a escuridão
Deixarei de acreditar em Deus
Porque Deus é ausência
Porque Deus é ausência
Mas Deus é meu herói
(Permitam-me mais esta contradição)
(Permitam-me mais esta contradição)
Às vezes, a contradição é a única forma
De se defender contra verdade
De se defender contra verdade
Esperem um pouco
Vou abrir as janelas
E ver o mundo por dentro e por fora
Ouvir os sinos da igreja
Lamentando o fim do dia
Vou abrir as janelas
E ver o mundo por dentro e por fora
Ouvir os sinos da igreja
Lamentando o fim do dia
De agora em diante
A madrugada será minha metáfora
E a de vocês também
A madrugada será minha metáfora
E a de vocês também
Neste instante a ausência de Deus
Nos protege
Nos protege
A madrugada é um segredo
A performance da noite é pelo sonho
Mas esta noite só desejo o simples
Escrevo para os corações selvagens e domados
Escrevo para os corações selvagens e domados
Quando as coisas são simples
Escuta-se o som das estrelas
Escuta-se o som das estrelas
Um segredo só pode ser contado à noite
A manhã é lúcida demais para ouvir um mistério
Agora...
Permitam-me que eu descanse
Os sonhos e as palavras
Permitam-me que eu descanse
Os sonhos e as palavras
Levantem-se todos
Já é hora de acordar
Já é hora de acordar
E se decidirem ir embora
Por favor, apaguem a luz
Mas não fechem a porta
Por favor, apaguem a luz
Mas não fechem a porta
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Palavra
Palavra
Cada palavra é uma história
Há em cada uma delas uma vontade
De ser livre
Toda palavra tem sua verdade
Mas só desejo a palavra sonhada
Aquela que revela o segredo das mariposas
Todos os seres sonham seus
Passados e futuros
Palavras sonham gerânios
Toda palavra é um poema
Uma obra contida em si
É ela que me gera
E me põe em contato com
O fundo das estrelas
Cada palavra é uma história
Há em cada uma delas uma vontade
De ser livre
Toda palavra tem sua verdade
Mas só desejo a palavra sonhada
Aquela que revela o segredo das mariposas
Todos os seres sonham seus
Passados e futuros
Palavras sonham gerânios
Toda palavra é um poema
Uma obra contida em si
É ela que me gera
E me põe em contato com
O fundo das estrelas
domingo, 19 de outubro de 2008
Sobre a metáfora
Sobre a metáfora
Só a metáfora pode domar o tempo
Porque é nela que as horas repousam
A metáfora conhece a vida íntima de Deus
E o poema sabe disso.
Deus é um segredo meu.
Para mim Ele já está revelado
E o que posso dizer
É que Deus trabalha à noite
Sonhando o futuro
(A metáfora é a língua do tempo)
Mas a noite já sonhava
Com seu nascimento
Antes mesmo de ser sonhada
Às vezes, Deus vai dormir dentro do mar
Porque o mar é o profeta das metáforas
Só a metáfora pode domar o tempo
Porque é nela que as horas repousam
A metáfora conhece a vida íntima de Deus
E o poema sabe disso.
Deus é um segredo meu.
Para mim Ele já está revelado
E o que posso dizer
É que Deus trabalha à noite
Sonhando o futuro
(A metáfora é a língua do tempo)
Mas a noite já sonhava
Com seu nascimento
Antes mesmo de ser sonhada
Às vezes, Deus vai dormir dentro do mar
Porque o mar é o profeta das metáforas
sábado, 18 de outubro de 2008
Rito
Rito
Nascer um poema exige ritos
Uma certa cerimônia com as estrelas
Uma observância na índole da noite
E um certo sentimento de mar
(Preciso, às vezes, beliscar um anjo de Rilke)
A travessura das crianças
Também me preparam para um poema
A intuição é a conciliação
Do homem com a poesia
O clarão é a rotina do poeta
Acho que não tenho um estilo
O estilo sou eu mesmo
Minha obra é a minha relação
Com a vida
E a vida é um instante
E um poeta deve saber disso
Nascer um poema exige ritos
Uma certa cerimônia com as estrelas
Uma observância na índole da noite
E um certo sentimento de mar
(Preciso, às vezes, beliscar um anjo de Rilke)
A travessura das crianças
Também me preparam para um poema
A intuição é a conciliação
Do homem com a poesia
O clarão é a rotina do poeta
Acho que não tenho um estilo
O estilo sou eu mesmo
Minha obra é a minha relação
Com a vida
E a vida é um instante
E um poeta deve saber disso
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Reflexo
Reflexo
Reter o tempo num espelho
É refletir a luz sincera
Que revela os horizontes
A imagem do tempo
É também a minha
A noite é uma dor refletida
Refazendo minha face
A cada dia
Reter o tempo num espelho
É refletir a luz sincera
Que revela os horizontes
A imagem do tempo
É também a minha
A noite é uma dor refletida
Refazendo minha face
A cada dia
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O rugido da memória
O rugido da memória
Minha memória
É um leão ferido
Passeando sobre o coração
Rugindo vestígios
Sobre a relva da alma
Mas um leão ferido
Ainda é um leão
Mesmo cambaleando
E acossado pela
Dor
Um leão é capaz de atacar
Dentro da noite
No sonho dentro do sonho
Na lucidez dentro da lucidez
Minha memória é um rugido
Acometido pelo tempo
Minha memória
É a sobrevivência da fera
Em movimento
Deus envelhece na sabedoria do leão
Minha lembrança é um Deus envelhecido
Todo leão carrega nos olhos
O instinto de ser sábio
A memória do leão sonha
Hienas, lebres e coelhos
Mas pode sonhar também
Lírios selvagens
Minha lembrança são esses lírios
A ferida num leão
É uma dor que repousa no tempo
Mas um leão ferido
Ainda é um leão
E ataca.
Minha memória
É um leão ferido
Passeando sobre o coração
Rugindo vestígios
Sobre a relva da alma
Mas um leão ferido
Ainda é um leão
Mesmo cambaleando
E acossado pela
Dor
Um leão é capaz de atacar
Dentro da noite
No sonho dentro do sonho
Na lucidez dentro da lucidez
Minha memória é um rugido
Acometido pelo tempo
Minha memória
É a sobrevivência da fera
Em movimento
Deus envelhece na sabedoria do leão
Minha lembrança é um Deus envelhecido
Todo leão carrega nos olhos
O instinto de ser sábio
A memória do leão sonha
Hienas, lebres e coelhos
Mas pode sonhar também
Lírios selvagens
Minha lembrança são esses lírios
A ferida num leão
É uma dor que repousa no tempo
Mas um leão ferido
Ainda é um leão
E ataca.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Preguiça
Preguiça
O sol derrama sua ternura sobre mim
Levantar da cama é sempre um acordo
Com a preguiça
(Arrumar a cama
é prever o dia)
Um passarinho pousa na janela
E escuta o repouso dos meus sonhos
Depois leva no bico
Um pedaço de palavra adormecida
E dá de comer aos filhotes
E estes hão de espalhar
Seus cantos
Para nascer madrugadas
O sol derrama sua ternura sobre mim
Levantar da cama é sempre um acordo
Com a preguiça
(Arrumar a cama
é prever o dia)
Um passarinho pousa na janela
E escuta o repouso dos meus sonhos
Depois leva no bico
Um pedaço de palavra adormecida
E dá de comer aos filhotes
E estes hão de espalhar
Seus cantos
Para nascer madrugadas
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Perder o tempo
Perder o tempo
É preciso perder o tempo
No sossego das lesmas
Desmanchar a pressa
Num amor demorado
Perder o tempo
É por a alma em movimento
Agora me despi
Do hálito das horas
Agora perco o tempo
Em folhas caídas
E em tardes sussurradas
Deixo o tempo
Na pressa da chama
E depois...
Me permito poemar
Na cama
É preciso perder o tempo
No sossego das lesmas
Desmanchar a pressa
Num amor demorado
Perder o tempo
É por a alma em movimento
Agora me despi
Do hálito das horas
Agora perco o tempo
Em folhas caídas
E em tardes sussurradas
Deixo o tempo
Na pressa da chama
E depois...
Me permito poemar
Na cama
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Destino
Destino
Icei a vela
Do barco de mim mesmo
Carregando a vontade
De um lampejo
Onde tu pressintas minha chegada
Teu continente é o meu destino
Teu coração
Minha morada
Icei a vela
Do barco de mim mesmo
Carregando a vontade
De um lampejo
Onde tu pressintas minha chegada
Teu continente é o meu destino
Teu coração
Minha morada
domingo, 12 de outubro de 2008
Noturno
Noturno
Meus olhos mergulham noite adentro
Depois emergem do profundo
Ouço pássaros na sombra
Ouço cantos
Eles anunciam a lucidez do dia
E enquanto adormeço serenamente
A noite me sonha
Meus olhos mergulham noite adentro
Depois emergem do profundo
Ouço pássaros na sombra
Ouço cantos
Eles anunciam a lucidez do dia
E enquanto adormeço serenamente
A noite me sonha
sábado, 11 de outubro de 2008
Céus de rapina
Céus de rapina
Meu coração
É o céu
Onde voam
Aves de rapina
Na direção selvagem
E repentina
Sons e ventos
Milagram
A fúria das nuvens
Meu coração
Galopa céu adentro
A paz está selada
Meu coração é sossego
Depois da
Tempestade instalada
Meu coração
É o céu
Onde voam
Aves de rapina
Na direção selvagem
E repentina
Sons e ventos
Milagram
A fúria das nuvens
Meu coração
Galopa céu adentro
A paz está selada
Meu coração é sossego
Depois da
Tempestade instalada
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Poema sonhado
Para Adélia Prado
Poema sonhado
Sinto um sono justo
Que me percorre a espinha
Um sono profundo
Adormeci meus
Pensamentos
Na cama quente
Dos sentidos
Um poema nasce
Sonhado
Deus acomoda
Meu abandono
Entre as mãos
E um vento sussurrado
Me desperta entre os seus vãos
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Oração
Para Deisi
Oração
Teu sussurro é uma oração
Pondo em movimento
O espirito das pedras
Teu verso sagrado
Excita a madrugada
Orvalhando as manhãs
E o perfume que exalas
Salva o dia
Protegendo o amor dos pássaros
Nas tardes quentes de verão
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Farol
Farol
Minha tristeza é solitária
Como um cão molhado
Vagando pela chuva
A solidão é um farol apagado
Mar aberto
Poema calado
Minha tristeza é solitária
Como um cão molhado
Vagando pela chuva
A solidão é um farol apagado
Mar aberto
Poema calado
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Um poema também morre
Para Monsieur Teste e Paul Valéry
Um poema também morre
Um poema também morre
Quando, no fundo da estante,
Permanece fechado
Um poema morre
Quando a poeira conforta suas palavras
Ou quando o esquecimento é sua rotina
A morte de um poema
É a palavra de abismo
É a perda dos sentidos
Fim intelectual
Marcha fúnebre do sentimento
domingo, 5 de outubro de 2008
Mensagem
Mensagem
Mar,
Recolhe as palavras
Que o vento deixa cair
E com elas elabora
O movimento das marés
Com a língua das águas
Marca a terra
Com um verso longínquo
Depois, guardas um
Poema numa concha
E envia aos homens
Através das ondas
Como se cada estrondo
Fosse uma estrofe de Camões
Mar,
Recolhe as palavras
Que o vento deixa cair
E com elas elabora
O movimento das marés
Com a língua das águas
Marca a terra
Com um verso longínquo
Depois, guardas um
Poema numa concha
E envia aos homens
Através das ondas
Como se cada estrondo
Fosse uma estrofe de Camões
sábado, 4 de outubro de 2008
Beatriz
O espetáculo "Beatriz - a beleza e tristeza" está de volta. Lá na Usina do Gasômetro. A peça é inspirada num conto de minha autoria e em dois poemas: um da Gerusa Marques e outro, do Diego Petrarca. Assisti ao espetáculo duas vezes, e ver o próprio texto adaptado para o teatro não deixe de ser algo prazeroso. Tenho a noção de que toda a adptação de um texto literário transforma-se em outra obra. Claro que a tentação de comparar é quase inevitável. Portanto, as "Beatrizes" tanto a do meu conto, quanto a da peça carregam o mistério que cerca o universo feminino e a sua idealização através universo masculino ou como bem escreveu Antônio Hohlfeldt em uma crítica sobre a peça: "A idealização dessa Beatriz às potenciais imagens que Beatriz poderia assumir desdobram-se imagens do feminino, do humano, da beleza e da tristeza". No entanto, o que se passa em meu conto é na verdade uma Beatriz incompreendida, que abandona o marido "não para fugir dele, mas dela mesma".
As pessoas que leram o conto tem me perguntado quais seriam os motivos que levaram Beatriz a abandonar o marido já que viviam uma vida tão bela e intensa, e eu respondo que não sei, porque é uma questão que só ela pode responder. Talvez a Performance de Fernanda Carvalho Leite responda um pouco por esta questão já que lá pelas tantas, no espetáculo, ela pergunta para onde Beatriz teria ido e quais teriam sido os seus motivos elencando, assim, uma série de possibilidades para a personagem.
O espetáculo é poético, sem dúvida, a música tocada ao vivo e a dança tornam a peça tanto bela como triste, bem como sugere o título.
E cumprindo a minha aposta comigo mesmo, aí vai mais um poema:
Chuva
A tristeza começa no silêncio
Gotas no zinco
Comovem pássaros e árvores
Encosto palavras no vidro da janela
Os olhos desenham o frio
Gotas no zinco
Comovem pássaros e árvores
Encosto palavras no vidro da janela
Os olhos desenham o frio
No vidro embaçado
Mãos silenciosas tecem o céu cinzento
Desamparo e sossego caem sobre os telhados
Mãos silenciosas tecem o céu cinzento
Desamparo e sossego caem sobre os telhados
O vento acena com folhas de laranjeira
Aqui dentro a ausência perdura
Mas lá fora a chuva é passageira
Aqui dentro a ausência perdura
Mas lá fora a chuva é passageira
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Ulisses negro
Para Homero
Ulisses Negro
Quando Ogum tocou o mar
Trazia nos olhos
A vertigem das ondas
Nas mãos, a coragem da espada
E nos gestos, a solidão do vento
Jangada de pedra
Pedaços de África
Navegam sob seus pés
(Que em terra não se navega o equilíbrio)
Com a espada risca o sol
E parte o dia em dois
As mulheres do mar verdejavam
Sobre as águas
E toda a mulher que entra no mar
Torna-se encantada
Ogum nunca tapou os ouvidos para as sereias
Ao contrário; ouviu-as e depois cantou para elas
Um canto triste
Alegre e pungente
Como a voz de um atabaque
"Minha voz é um sopro
no ouvido do mundo"
À noite, Ogum avança
Cingindo as águas
Em sua memória
Abraça as sereias
Salvando-as
Da dor do esquecimento
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Profundidades
Para João Cabral
Profundidades
Há mais profundidade
Na resistência das rochas
Que no fundo do mar
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